Por uma contagem mais ecológica das árvores [por MARCUS STOYANOVITH]
Marcus Stoyanovith*
Árvores não têm pés pra correr nem boca pra gritar, mesmo assim permitem o que há de vida no planeta andar e deixam recados duros como: prolongamentos nas estações de seca ou de chuvas, confusão nos períodos dos regimes das águas na Amazônia (seca, enchente, cheia e vazante). Antes alertam para reflexões e aqui vai uma delas:
Apenas comparar se um desmatamento foi maior ou menor que o outro é reduzir o conhecimento do real impacto de um desmatamento, por si só.Para além da comparação deveria se divulgar informações detalhadas dos impactos que cada um deles provoca na redução dessa coexistência árvores/seres vivos.
É certo que árvores não falam a língua dos humanos, mas têm seus decodificadores nessa comunicação que são os cientistas, ecologistas e pessoas que se preocupam na construção do bem viver.
E elas sabem que governos e empresas de mídia não têm razão de comemorar quando um desmatamento, num determinado período, é menor que o anterior. Grande ou pequeno, ambos têm impactos negativos.
Logo, apenas comparar não ajuda a dimensionar o problema, tampouco conhecer melhor a floresta em suas mais 16 mil espécies e cerca de 390 bilhões de indivíduos, segundo cálculos da Rede de Diversidade de árvores da Amazônia.
A informação quando se limita a comparar volume de desmatamento é incompleta. Um desmatamento envolve uma série de impactos e deveria ter um diagnóstico mais amplo e específico daquele desmatamento, óbvio, a partir de dados científicos. Dados que deveriam ser divulgados diariamente, assim como as notícias do clima e tempo.
Há informações que são possíveis de serem processadas sobre um desmatamento que, independentemente, de ser maior ou menor tem impactos negativos do mesmo jeito. Organizar um banco de dados para sabermos no que diferencia um desmatamento do outro, para além do volume de árvores mortas, ajudaria a sociedade a entender melhor os números revelados pelo Inpe.
Segundo o site UOL, em 31 anos a Amazônia Legal teve uma área desmatada de 446 mil quilômetros, tamanho equivalente 31 vezes a do estado do Rio de Janeiro.
No levantamento feito pela Rede de Diversidade de árvores da Amazônia, considerando apenas árvores com caules a partir de 10cm de diâmetro, feito recentemente, apenas 227 das 16 mil espécies são hiperdominantes, mas que representam mais da metade das cerca das 390 bilhões existentes.
Pouco menos da outra metade que sobra representa árvores muitas delas raras.
Então para além das comparações, a popularização das informações sobre o desmatamento a partir das espécies, do lugar desmatado e dos impactos possíveis sobre essa ação específica, levaria todos à uma compreensão melhor e a partir de uma outro conta mais adequada ao sentido ecossistêmico.
*O autor é jornalista e roteirista de TV e cinema