Ignácio de Loyola Brandão faz elogio à poesia de Dori Carvalho
Wilson Nogueira
A poesia de Dori Carvalho conquistou elogio público do escritor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Ignácio de Loyola Brandão.
No encerramento da sua palestra no Café Literário da 34ª Feira de Livros do Sesc, em Manaus (AM), no último sábado (7/12)), Brandão leu o poema Desconfiança, que está no livro Desencontro das águas (Editora Valer).
O escritor revelou que começou a ler o livro na madrugada anterior e, por considerá-lo de beleza ímpar, decidiu compartilhá-lo com plateia.
“Eu li um poema de um poeta que vocês conhecem”, disse, e passou a recitar Desconfiança, intercalando versos com comentários, os quais estão destacados entre colchetes.
sou um menino que
trazia no peito
uma frase de Ho Chi Mihn:
[Eu fui um jovem que trazia no peito essa frase de Ho Chi Mhin]
O homem é bom por natureza
sou um homem
que trazia na cabeça
uma frase de Sartre:
[O Sartre formou a minha geração até a gente passar a odiá-lo, quando ele apoiou o stalinismo]
O homem é fruto da sua existência
e tantas tantas outras
hoje sinto que a desconfiança vive
insuportavelmente em mim
feito um câncer
crescendo todo dia
Entre os aplausos, o escritor comentou: “Impressionante! Eu confesso que antes não tinha lido ele [Dori Carvalho]. Agora eu vou ler inteirinho esse livro e todos os que ele escrever. Eu estou aqui dentro”.
Ele voltou a repetir os versos “feito um câncer/ crescendo dentro de mim”, e novamente comentou: “Esse câncer está crescendo dentro de todos nós”.
Enquanto autografava, perguntado por este amazONamazonia sobre o que o havia impressionado na poesia de Dori Carvalho, Brandão foi enfático: “Primeiro, atualidade; segundo, visão de mundo; terceiro, é uma poesia existencialista que pega a todos nós; e último: ela é a poesia que eu escreveria se fosse poeta, se tivesse talento para fazer poesia. Me tocou muito.”
Dori Carvalho, que fez a apresentação do palestrante, comemorou: “Veio para eu fechar o meu ano”, referindo-se à essa e a outras conquistas do ano que se encerra.
O poeta, paulista de nascimento, reside em Manaus desde 1979, ano em que fundou a Livraria Maíra, ponto de referência de intelectuais e políticos de esquerda que combatiam a ditadura militar. A livraria veio a fechar no final dos anos de 1980.
De livreiro, Dori passou a se dedicar à poesia e ao teatro, principalmente como ator.
Em reconhecimento ao seu trabalho artístico e participação em ações de promoção da cidadania, ele foi reconhecido, neste ano, como Cidadão Manauara e Cidadão Amazonense, pela Câmara de Vereadores e pela Assembleia Legislativa respectivamente.
Neste ano, ele também participou do filme Em nome dessa terra – sobre Roger Casement e o genocídio indígena na região de Putomayo -, dirigido por Aurélio Michiles, e ensaia a peça Carnaval Rabelais, escrita por Márcio Sousa e dirigida por Nonato Tavares, com estreia prevista para o primeiro semestre do ano que vem.
Dori é autor dos livros Desencontro das águas, Paixão e fúria e Meu ovo esquerdo., todos publicados pela Editora Valer.