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Cenário amazônico se sobressai em Fórum de imagens em Paris [por ANA CLÁUDIA LEOCÁDIO GIOIA]

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Ana Cláudia Leocádio Gioia*, de Paris

Definitivamente, o cinema é um dos grandes prazeres (e não faltam opções) que se descobre ao viver em Paris.

Mesmo quem não é cinéfilo,  desperta a curiosidade para descobrir os  cantinhos dedicados à sétima arte. Incentivada pelo meu marido, começamos a visitar alguns espaços que exibem películas fora do circuito comercial, filmes franceses bem antigos, recém-recuperados.

Como consequência, comecei a prestar mais atenção ao que ocorre também no grande circuito.

Foi assim que fui conhecer, em novembro, a décima primeira edição do festival “Un État du Monde” (Um estado do mundo, em tradução livre), realizado pelo Forum des Images, um cinema localizado dentro do tradicional centro de compras Forum des Halles, que foi construído onde era antigamente o grande mercado da capital francesa.

Este ano, o festival foi dedicado à produção cinematográfica brasileira, com 15 longas em exibição, além de produções de outros países, como China e Marrocos.

Fui atraída ao festival pelo filme “Aquarius” (2016), de Kleber Mendonça Filho, que destacou a força da personagem de Sônia Braga, Clara, como alguém que incorpora um pouco da personalidade da mãe dele.

O longa leva o nome do edifício onde Clara mora, Aquarius, no Recife, que é praticamente todo comprado por uma grande incorporadora imobiliária.

Mais que uma história de resistência, o filme nos evoca a refletir sobre o poder do não em uma sociedade totalmente dominada pelo poder econômico.

De um só fôlego, no mesmo dia assisti a mais dois filmes, como se estivesse naquelas maratonas de séries de TV.

Uma sessão especial foi aberta para o longa de 1974, “Iracema, uma transa amazônica”, de Orlando Senna e Jorge Bodansky.

O filme é uma mistura de documentário e ficção que mostra a grande promessa da rodovia Transmazônica para a região, projeto executado pelo governo militar na década de 70 que, ao final, mostrou-se um grande fracasso.

Chama a atenção a atualidade dessa película, lançada há 45 anos, diante da problemática ambiental enfrentada pelos estados da Amazônia nos dias de hoje.

Mas o filme que quase lotou a maior sala do Forum des Images foi “Amor Divino”, do jovem diretor pernambucano Gabriel Mascaro, lançado este ano.

Na história que se passa em 2027, Mascaro aborda a cristandade dos evangélicos em um jogo com dogmas  intocáveis para os cristãos como um todo.

Não tem como ficar indiferente ao drama protagonizado pelos atores Dira Paes e Júlio Machado onde a fé é colocada à prova de forma nada convencional.

Segundo Mascaro, o filme infelizmente ficou muito restrito ao circuito mais artístico no Brasil, o que é uma pena, pois seria uma boa oportunidade de testar essa força religiosa que tem dominado o cenário político nacional.

A grande surpresa dos filmes brasileiros no festival, no entanto, foi “A febre”, da diretora Maya Da-Rin, recém-lançado no Brasil, cuja história se passa em Manaus, e que teve sua primeira exibição em sala de cinema, justo aqui em Paris.

Coincidentemente, foi exibido no mesmo dia da avant-première em Brasília.

O longa é uma produção do Brasil, França e Alemanha que mostra a trajetória de um indígena Dessana, interpretado pelo ator amazonense e também indígena Regis Myrupu, que passa a sentir uma febre estranha após a filha, interpretada pela atriz amazonense Rosa Peixoto, ter que deixar Manaus para estudar.

Gravado praticamente todo em língua tukano, aqui traduzida para o francês, o filme realça a questão do pertencimento do ser humano e nos aproxima um pouco desse mundo do indígena que tenta se “civilizar” na cidade, mas encontra diversas barreiras.

Os organizadores do festival deste ano, que contou com a presença de vários diretores brasileiros antes das exibições dos filmes, fizeram questão de ressaltar que a homenagem à produção cinematográfica brasileira foi uma forma de apoiar todos os setores envolvidos nessa indústria, diante do desmantelamento das políticas públicas na área cultural, nos últimos 20 anos, com maiores consequências para o cinema nacional.
É uma forma de apoiar os cineastas a seguirem produzindo e não arrefecerem diante de todas as dificuldades.
Assim, vejo que foi uma ótima experiência dentro dessas novas descobertas na capital parisiense, que me aproximou muito mais da produção do cinema brasileiro.
São vivências que nos preenchem e nos ajudam a ampliar nossa visão de mundo e a nos conectar muito mais ao nosso país, às nossas raízes. Espero seguir encontrando ainda muitas novidades por aqui.

*A autora é jornalista

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