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O complexo da Amazônia, eis o desafio da vida de Djalma Batista [Por Hélder Mourão*]

Por Helder Mourão*

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Ninguém duvida de que a Amazônia vem sendo um celeiro de incógnitas, a justificarem um dos célebres conceitos de Euclides da Cunha, de que a região é conhecida apenas aos fragmentos, devendo constituir, algum dia, com o descobrimento de todos os seus segredos, a última página da História Natural

Djalma Batista (p.379).

 

Antes de tratar do livro O complexo da Amazônia é preciso ressaltar a importância o autor no cenário intelectual regional.

Assim como Márcio Souza e Samuel Benchimol, Djalma Batista escreveu obras ricas e detalhadas sobre a Amazônia, seja da sua evolução política e econômica, seja das peculiaridades da sua cultura ou da sua formação social.

Djalma Batista é também, com toda certeza, indispensável no diálogo sobre as vicissitudes da região.

É obra obrigatória para todos que queiram conhecer a Amazônia e mesmo sendo profunda e completa não é de difícil leitura. O livro é escrito para qualquer pessoa que queira aprender mais sobre a região.

Não é um livro só para acadêmicos, ambiente no qual é mais lido e conhecido.

No prefácio, historiador e então governador do Amazonas Arthur César Ferreira Reis (-1906+1993), afirma que o desafio da organização dessa obra é o mesmo que o da sentença da esfinge, tomado como metáfora da própria Amazônia: “Decifra-me ou te devoro!”.

Decifrar a região é mergulhar na riqueza de um lugar de várias nações, dificilmente encaixado em padrões ou modelos já existentes. Rico em biodiversidade e sócio-diversidade e, por isso, tão variado quanto complexo.

O complexo da Amazônia: análise do processo de desenvolvimento é sua principal obra e nela – embora se dedique a um amplo histórico, desde o Tratado de Tordesilhas até meados da Zona Franca de Manaus – consegue fazer uma síntese dos acontecimentos e medidas que afetaram o processo de desenvolvimento sociocultural da região.

Não se trata, portanto, de um resumo ou de um texto menor e pouco explorado.

Pelo contrário: o escritor foi capaz de interligar momentos diversos da história, da política, da economia, da sociedade e da natureza amazônica, dando sentido e o devido valor à complexidade regional.

O professor Renan Freitas Pinto, na apresentação à segunda edição (Valer, Edua, Fapeam e Inpa), afirma que Djalma Batista tem a capacidade de “esclarecer questões de natureza aparentemente diversa, mas que se encontram de alguma forma encadeadas e conectadas à questão central da obra, que é o desenvolvimento e a preservação da Amazônia” (p.11).

Da afirmação do professor Renan Freitas Pinto, tiramos outra importante informação acerca da razão da existência do livro: o desenvolvimento e a preservação da Amazônia são pontos chave na vida do autor.

Djalma Batista quis não apenas compreender os motivos da estagnação econômica local, mas também propor mudanças que pudessem fazer a região se desenvolver com sustentabilidade ecológica, econômica e social.

 

Para isso, seu esforço se deu também no sentido de desconstruir antigos equívocos enraizados na literatura e na ciência produzida sobre a Amazônia, o que de fato o livro faz com muito zelo e firmeza.

Tamanho valor presente no conteúdo é justificado também pela paixão do autor pela Amazônia e pela escrita.

Aos 22 anos de idade o autor lançou Letras da Amazônia, uma formidável análise do pensamento social amazônico.

Além do mais, contribuiu com a imprensa local; foi membro e presidente da Academia Amazonense de Letras (ALL); membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA); e diretor do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

Por ter vivido a maior parte de sua vida em Manaus, viu e vivenciou parte do conteúdo do livro, tendo, portanto, em sua própria vida alicerces para a obra.

Outro ponto a ser destacado na obra não está no conteúdo, mas na forma. O livro não foi escrito como uma tese científica, no pesado e rebuscado modelo argumentativo.

Trata-se de um texto acessível a qualquer leitor, uma leitura leve, detalhada e fundamentada. Isso se dá pelo fato de Djalma Batista não ser um cientista social por formação acadêmica, já que foi médico.

Assim, o livro é escrito como uma obra que varia entre o ensaio científico e a literatura, e seu peso se dá pelo amplo conhecimento que o autor tem da realidade regional. Ele se aprofunda no tema proposto sem se tornar cansativo, principalmente para os leitores iniciantes.

Como um amazônida, Djalma Batista faz uma defesa dos interesses da região. Mas não a faz de forma romântica.

Na primeira parte do livro, O espaço e a humanidade, o autor mostra como as populações locais se relacionavam com a natureza, identificando o respeito e a proximidade com ela, fato que confirma uma base de sustentabilidade.

Descreve a sabedoria do ameríndio, a complexidade da pecuária e da agricultura do povo da mandioca. Dessa forma, prova que os que estavam aqui antes da ocupação europeia faziam parte no ecossistema amazônico.

Ao analisar a ocupação europeia, detalha os erros da conquista forçada e soberba que, para o autor, é até os dias atuais um dos grandes problemas da região. Ou seja: seja, para ele, nunca houve um projeto amazônico para a Amazônia, porque os conhecimentos aplicados nela sempre vieram de fora. A sabedoria local sempre foi tratada como primitiva.

Esse é o ponto que introduz a segunda parte do livro: O duelo com a natureza. Ao explorar os ciclos econômicos impostos à Amazônia, o autor mostra que nossa ignorância quanto aos saberes locais é prejudicial à natureza e à população vivente nela.

Disso se deu o extermínio do pau-rosa (árvore da qual se extrai o linalol, um fixador de perfumes), com a extração predatória de madeiras que perdura até hoje, ecom a ameaça permanente à fauna.

Tendo explorado historicamente os modelos controversos da ocupação amazônica, a terceira parte se dedica aos conselhos do autor.

O desafio da esfinge é o auge desse texto, pelo qual ele analisa o presente com base no passado e tece sugestões para o futuro.

Damos destaque à seção A estrada e o rio, onde assim como Leandro Tocantins, ele destaca a importância dos rios como as estradas amazônicas. Mostra como o rio não é valorizado como deveria ser e destaca os problemas causados pela rodovia transamazônica, entre os quais, a depredação dos recursos naturais.

Dentre suas reflexões, destaca-se também a importante sugestão de que precisamos aproveitar o conhecimento científico de forma racional, porém, sem deixarmos de lado o conhecimento local: os saberes dos líderes comunitários, dos índios e dos ribeirinhos, de forma a fundarmos um conhecimento amazônico da/para a Amazônia.

Só assim, segundo Djalma Batista, desenvolveremos a região de forma sustentável, e não apenas economicamente.

*O autor é jornalista e professor de Jornalismo da Fametro

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