Editora Valer encerra 2019 com 62 obras publicadas
Empresa obteve desempenho excelente em ambiente desfavorável
Wilson Nogueira//
Mesmo em tempos em que grandes editoras do País cerraram suas portas, realizaram fusões ou reduziram suas publicações, a Editora Valer, fundada em Manaus há 22 anos, mantém-se estável no mercado.
O editor Isaac Maciel, criador da empresa, disse a este amazONamazonia que, no ano de 2019, a Valer publicou 62 títulos, entre reimpressões e novas edições. Em média, a Valer colocou no mercado quatro títulos a cada mês.
Observando friamente os números, Isaac Maciel explica que esse desempenho “é excelente”, considerando a crise que atingiu em cheio o setor, principalmente em decorrência do surgimento das novas plataformas de leitura e das mudanças nas políticas governamentais de estímulo aos livros e à leitura, que afetam o segmento.
É necessário considerar, ainda, segundo o empresário, o custo logístico de se manter uma editora longe dos mercados consumidores e dos meios mais baratos de distribuição do sul e sudeste do País.
“O custo amazônico é uma realidade para quem empreende por aqui”, explica Maciel.
Uma entrega no Sul, Sudeste ou mesmo no Nordeste que, a partir de São Paulo dura horas, no Amazonas pode durar algumas semanas, até mesmo dentro do Estado.
Para Maciel, a questão logística é só mais uma das dificuldades, porém não há segredo nem pulo do gato, tem que prosseguir e avançar com criatividade, inovação e foco bem determinado.
“Nosso principal diferencial é o conteúdo local, que se expressa por meio de livros com design moderno, mesmo quando reeditamos obras que estavam fora de mercado há décadas, séculos… E o nosso foco é colocar a Amazônia no centro das discussões acadêmicas, políticas, econômicas, ecológicas etc.”, comentou

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A editora adotou o slogan Publicando a Amazônia em suas comunicações e ações de marketing.
Ao focar a Amazônia, a Valer passou a priorizar a publicação de obras que contribuam com uma interpretação contemporânea da região, por intermédio de obras científicas e técnicas, ensaios, poesia, artes, religião, filosofia e literatura, articuladas com a produção intelectual predecessora.
Nos últimos 22 anos, a Valer já publicou mais de 1.500 títulos, a maioria sobre temas amazônicos, porém, temas não ensimesmados, como é o caso de Simá: romance histórico do alto Solimões, de Lourenço Amazonas.
Simá tem como espinha dorsal os conflitos que permearam a formação sociocultural do povo brasileiro. A esse romance, em época e tema, iguala-se o romance Iracema, de José de Alencar, uma metáfora do nascimento, pela mistura étnica, do verdadeiro povo brasileiro.
No mesmo grau de importância, está a primeira publicação em livro da obra Poranduba amazonense, do botânico e escritor João Barbosa Rodrigues, que esteve no Amazonas a serviço da princesa Isabel, para fundar o Jardim Botânico de Manaus.
O coordenador da obra, crítico literário e escritor Tenório Telles, trabalhou dez anos consecutivos para deixá-la pronta.
Poranbuba resurgiu com linguagem e ortografia atualizadas e com o acréscimo de um dicionário nheengatu-português.
A língua nheengatu, de vocabulário interétnico, era falada largamente no Amazonas até o final do século 20.
A obra é a mais completa coleção de contos e histórias do imaginário dos povos indígenas da Amazônia, obtidas pelo autor diretamente de narradores autóctones.
Assim como Simá, Poranduba também chegava aos círculos universitários em fotocópias precárias. Hoje, Simá já está na terceira edição e Poranduba na segunda.
Maciel revela que, em razão da demanda, as reedições acabam passando na frente das novas edições.
No ano passado, por exemplo, houve apelo dos leitores pelo relançamento de A invenção da Amazônia, da escritora Neide Gondim, atendido pela editora.
Entre as novas obras editadas em 2019, está Trajetórias políticas na Amazônia republicana, uma coletânea de biografias críticas de homens e mulheres com militância em vários segmentos da sociedade regional.
A obra é organizada pelos historiadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) César Augusto Bulbolz Queirós e Auxiliomar Urgate, assim como diversas outras obras de interesse histórico como: História Econômica da Amazônia, de Roberto Santos, e Amazonas: sua história, de Anísio Jobim.
Universais
A coordenadora editorial da empresa, filósofa Neiza Teixeira, acrescenta que o foco na Amazônia não impediu que ela editasse obras clássicas de autores, como Fernando Pessoa, Machado de Assis, Camões, Lewis Carrol, Allan Poe, Florbela Espanca, dentre outros.
Ao mesmo tempo, há livros de autores contemporâneos consagrados de outros países, que foram publicados, pela primeira vez, em Língua Portuguesa, como Não amanhece o cantor, do poeta espanhol José Ángel Valente, Livro do frio, de Antonio Gamoneda e Uma temporada no paraíso, de Claudio Rodríguez Fer. Todos traduzidos por Saturnino Valladares.
Neiza cita ainda Brilho na floresta, de Noemia Kazue Ishikawa, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que tem se dedicado ao estudo dos fungos da floresta amazônica.
Noemia escreveu essa obra em português, inglês, japonês e nheengatu (língua ainda falada entre os índios do Alto Rio Negro principalmente), com o objetivo de compartilhar suas experiências científicas e a sabedoria do caboclo com outros povos.
Títulos novos ou reeditados em 2019 | |
A Ilusão do Fausto | Ednea Mascarenhas Dias |
Ditadura Militar, povos indígenas e a Igreja Católica na Amazônia: a Congregação da Consolata e o novo projeto de missão entre os índios de Roraima (1969-1999) | Jaci Guimarães Vieira |
A dança dos ossos | Bernardo Guimarães |
A invenção da Amazônia | Neide Gondim |
A necessária relação entre a física e a matemática | José Alcântara Filho |
A paixão de Ajuricaba | Márcio Souza |
Alameda | Astrid Cabral |
Amazônia Cultura e Sociedade | Djalma Batista |
Ana Bolena | Bruna Chíxaro |
As Pestes de Acará | João Bosco Botelho |
A minha história só quem pode contar sou eu | Ilda Vales Oliveira |
Bayá, Kumu e Yaí- Põrõ | Israel Fontes Dutra/Yuhkuro Avelino Dutra |
Belas Narrativas Amazônicas | João Cruz |
Beiradão | Álvaro Maia |
Caminhos e caminhada | Salvador Ramos Bernardino da Silva |
Canumã: a travessia | Ytanajé Coelho Cardoso |
Cidades de Puro Nada | Aldisio Filgueiras |
Haicais: reflexões do caminho | Rosa Clement |
Clube da Madrugada | Tenório Telles |
Como funciona a poesia | Antônio Paulo Graça |
Coronel de Barranco | Cláudio de Araújo Lima |
Da Escola Normal ao IEA | Assislene Mota |
Desencontro das águas | Dori Carvalho |
E Deus chorou sobre o Rio | Elizabeth Azize |
Educação Matemática no Amazonas | Tarcísio Leão |
Estado de Sítio | Aldisio Filgueiras |
Estatutos do Homem | Thiago de Mello |
Inglês Instrumental, 2ª edição | Auricênia Benício de Souza; Luiz Humberto Castro |
História Econômica da Amazônia | Roberto Santos |
Íntima Fuligem | Astrid Cabral |
Letras Negras | Alfredo Filho |
Manaus História e Arquitetura | Otoni Mesquita |
Noite na Taverna | Álvares de Azevedo – José Ángel Valente |
Nossas vidas, nossas escolhas: relatos de ex-pacientes do Hospital Colônia Antônio Aleixo | Leonardo Bivar |
O Amazonas e sua história | Anísio Jobim |
O lúdico no ensino da matemática | José Alcântara Filho |
O texto nu: teoria da literatura – gênese, conceitos, aplicação | Zemaria Pinto |
Palavra poder e ensino da língua | Odenildo Sena |
Poemas escritos pelo coração | David Alves |
Poranduba Amazonense | João Barbosa Rodrigues |
Razão e coração | Luiz Damasceno Rodrigues |
Servidão humana na selva | Carlos Corrêa Teixeira |
Sesc: uma década de artes na Amazônia | Tenório Telles (org.) |
Soldados da borracha | Frederico Alexandre de Oliveira Lima |
Tênis de mesa | Jozilma Batalha |
Trajetórias políticas na Amazônia republicana | César Augusto Bubolz Queirós e Auxiliomar Silva Ugarte (orgs.) |
A cidade perdida dos Meninos-peixes, 2ª edição | Zemaria Pinto |
Versos d’água doce | Almino Affonso |
Vida acadêmica: guia prático universitário | Julius François; Raimundo Barradas |
Visões da Cabanagem | Luiz Balkar Sá Peixoto Pinheiro |
Surdos, Qual Escola? | Nídia Regina Limeira de Sá |
A Construção do texto | Odenildo Sena |
A cidade dos meninos peixe | Zemaria Pinto |
Uma temporada no paraíso | Saturnino Valadares |
O texto nú | Zemaria Pinto |
Triádicos | João de Jesus Paes Loureiro |
Construindo conhecimento em educação especial | Patrícia Farias Fantinel Trevisan; Júlio Carregari (orgs.) |
Para aquém ou para além de nós: uma contribuição do pensamento ‘bárbaro’ ou ‘primitivo’ para o pensar do futuro | Neiza Teixeira |
Drogas, criminalização e punição: usuários de drogas no sistema de justiça penal em Manaus | Telma de Verçosa Roessing |
Alice no país das maravilhas | Lewis Carrol |
A mensageira das violetas | Florbela Espanca |
Brilhos na floresta | Noemia Kazue |
Parabéns pelo trabalho.