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Meu tio Elcinho e seus objetos mágicos [Por Wilson Nogueira]

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Dos meus treze tios da parte da mãe, o tio Elcinho foi o que conseguiu se destacar por meio da formação técnica e intelectual.

Tornou-se, ainda muito cedo, a referência dos meus sonhos.

Eu também queria saber o que ele sabia.

E ele sabia coisas incríveis. E porque não dizer: coisas mágicas.

Afinal, ele sabia como funcionavam os rádios, sabia montar antenas de emissoras de rádio e antenas receptoras de satélites.

Já eu, não entendia patavinas disso.

Não entendia como essas coisas podiam funcionar.

Conheci pessoalmente esse tio, o qual já admirava por meio da admiração da mãe que, aqui e acolá, dizia a nós, sobrinhos, que deveríamos tê-lo como exemplo.

Elcinho, até então só o imaginado,  morava em Manaus, cidade que,  também, era apenas uma imagem na vigília e nos meus sonhos infantis.

Um dia o tio apareceu. Estava em gozo de férias.

Hospedou-se, claro, na casa da avó Domingas e do avô Joaquim, na frente do curral do boi-bumbá Garantido, na Baixa de São José.

Diante de mim, agora feito gente, estava aquela figura miúda, bem vestida, cabelos peteados e voz pausada.

Uma pessoa admirável e exemplar. A mãe estava certíssima.

Certo dia, visitei o quarto do tio. Ele não estava lá. Aproveitei para abelhudar os seus instrumentos de trabalho que, para mim, eram estranhos.

Depois de passar os olhos sobre fios, caixinhas pretas, bastões com rabos para eletricidade e lâmpadas bizarras, recolhi, para observá-la, uma caneta preta, com a ponta igual a uma minúscula colher.

Ao manipulá-la senti logo o cheiro da tinta.

Um cheiro mais forte que o das lapiseiras.

Aí eu não me contive: desmontei a caneta para ver de onde vinha aquele cheiro tão expressivo.

Ela transformou-se em vários pedaços e a tinta se esparramou pela mesinha de trabalho do tio.

Não consegui mais remontar a caneta misteriosa e quanto mais eu limpava a mesinha, mais a tinta preta se espalhava, se impregnava na madeira e um cheiro metálico tomava conta da casa.

Eu quis dar no pé, mas a mãe foi mais rápida.

Abecou-me na altura do tronco e já se encaminhava para a goiabeira, cujos galhos verdoengos vergavam-se até encostar no chão.

O tio, vendo minha mãe enraivecida, perguntou a ela, com a sua voz mansa:

– O que houve? O que esse menino fez?

Ora, vê lá o que ele fez com as tuas coisas.

O tio se encaminhou para o escritório improvisado, e a mãe segui para o pé de goiabeira.

Antes de esquentar o meu lombo, ouvi a voz suave do meu tio:

– Júlia, largo o menino, ele não fez nada de errado. Ele só é curioso.

E tirou-me das mãos da mãe.

Mais tarde, apareceu em casa um radiozinho de pilha, aqueles das primeiras remessas japonesas para a ZFM.

Esse objeto mágico intriguei-me à exaustão.

Perguntei à mãe e perguntei ao pai, o velho Adolfo, sobre quem falava naquela minúscula geringonça.

As explicações deles, por mais que bem elaboradas, não me convenceram.

O pai me disse que quem falava naquela caixinha era um homúnculo.

Então, na primeira oportunidade que fiquei sozinho, peguei uma faca de cortar pão, desparafusei a caixinha e fui em busca do minúsculo homem falador.

Imaginei: ele foi mais esperto que eu. Ao perceber que eu iria pegá-lo, deu no pé. E, como é tão pequenino, saiu da caixinha sem eu vê-lo.

O pai estava certo.

Mas quem retornou primeiro à casa foi a mãe, e ao ver aquela maquininha toda desmontada e espalhada sobre a mesa, enraiveceu-se.

Apanhou-me pelo toutiço e me conduziu, desta vez, para debaixo de uma cuieira

O lombo esquentou. A mãe, do jeito dela, também estava certa ao se utilizar da caligrafia de Deus para acalmar a minha curiosidade perturbadora.

.

Roguei tanto aos deuses e aos anjos para que o tio Elcinho aparecesse.

E ele apareceu.

Só veio aparecer na solenidade de entrega do meu acerto de livros à Biblioteca Municipal Tonzinho Saunier, em Parintins (AM).

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1 comentário
  1. Ilmar martins Diz

    Vc me levou as lembranças de infancias, titio era o exemplo a ser seguido, o tio que teve estudo, que trabalhava no distrito. Boas lembranças.

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