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A casa e a memória* [por Isaac Maciel**]

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Visitei esta semana a cidade de Palmeiras dos Índios, em Alagoas, cidade que conquistou o título de Terra de Graciliano Ramos.

Embora o escritor tenha nascido na vizinha Quebrângulo, foi em Palmeira dos Índios que Graciliano viveu parte de sua adolescência e maturidade.

Lá foi caixeiro e comerciante no estabelecimento paterno e, mais tarde, prefeito.

Não se vai a Palmeira dos Índios sem se visitar a casa de Graciliano.

É a segunda vez que a visito.

A primeira vez eu ainda era um menino de onze anos.

Passaram-se mais de três décadas. Hoje, ao retornar, encontro a cidade simples de antes, com os seus problemas e desafios.

Mas o cuidado que o povo de Palmeira dos Índios tem para com a sua memória, torna-a digna de nota.

Na casa onde viveu Graciliano, tudo está bem cuidado e serve como testemunho do homem e do tempo.

Que emoção, pisar no mesmo chão em que tantas vezes ele pisou; compartilhar do que foi seu ambiente de vida e trabalho!

Estranha sensação experimentamos ao observar seus manuscritos, os originais de seus livros; suas cartas para Heloísa Ramos, sua mulher; outras endereçadas a amigos e editores; as provas de prelo de seus textos; muito documentos, fotos e objetos de uso pessoal.

Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892 e morreu em 29 de março de 1953.

Seus livros começaram a ser publicados em 1933, cinco anos depois de ser descoberto, escondido no estilo do seu famoso relatório, dando conta de suas ações como prefeito.

Estreia com Caetés, e no ano seguinte, 1934, publica São Bernardo, considerado pela crítica, junto com Vidas secas, obras-primas do autor.

Poderia encher páginas e mais páginas para falar de Graciliano, da sua obra, do cárcere, da repercussão da sua literatura em todo o mundo, ou ainda, para fazer comparações, dizer que, junto com Machado de Assis, ele é o escritor mais completo da literatura brasileira, ou ainda, para falar de sua vida no jornalismo… ou seus dramas pessoais e familiares, suas angústias e paixões.

Porém é da casa de Graciliano que eu quero falar, porque lá senti materializada a atmosfera e o conteúdo simbólico retratado pelo nosso Luiz Bacellar nos belos versos do livro Frauta de barro: “há tanta angustia antiga em cada prédio! – Em cada pedra nua e gasta…”

Durante minha estada, presenciei uma aula interessante, dada por uma professora da rede pública a sua turma de estudantes, inesquecível aula que provavelmente marcou a alma daqueles alunos.

É inquestionável o caráter pedagógico dessas casas para a difusão do conhecimento, da arte, da beleza e da vida.

Fiquei tentado a perguntar: Qual é a importância que damos a isso no Amazonas? Onde e como estão as casas onde viveram os homens e mulheres que escreveram a história do nosso Estado?

De imediato, lembrei-me de Silvino Santos, Álvaro Maia, Péricles Moraes, Djalma Batista e tantos que já partiram, e outros, como o nosso Thiago de Mello, que ainda nos iluminam com a presença física e criadora.

Fui em busca da memória de Silvino Santos. Comecei pela rua Jonathas Pedrosa, a um quarteirão do Palácio Rio Negro, na casa de nº 190, onde viveu o nosso cineasta.

Silvino foi um pioneiro do cinema brasileiro.

Aqui produziu de forma inovadora e brilhante, ganhou notoriedade nacional e internacional e escreveu seu nome na história do cinema.

Perguntei a uma senhora que comercia há anos bem em frente à casa onde Silvino morou e onde, até hoje, moram alguns familiares seus: Onde é a casa em que morou Silvino Santos?

Ela me respondeu que nunca ouviria falar nesse nome.

Atravessei a rua e perguntei a um rapaz vizinho daquela casa e ele também não soube informar; então, eu fui a própria casa e lá outro jovem nada sabia a respeito.

Uma senhora, que estava chegando, salvou-me e disse ser parenta de Silvino.

A casa onde morou o Cineasta da Selva está deteriorada, seu acervo não está lá, encontra-se disperso, uma parte, graças à Secretaria de Cultura, encontra-se no Misam.

Mas a magia da casa e do ambiente em que viveu aquele homem está comprometida e, nem de longe, cumpre sua função pedagógica – perdendo-se irremediavelmente a memória e o testemunho da vida cotidiana de um dos artistas mais extraordinários do Amazonas.


*Este texto foi publicado numa coluna semanal que eu assinava, no extinto Jornal do Norte; há quase 20 anos. Provavelmente, muitas coisas já mudaram, mas resolvi publicar este TBT na íntegra.

** O autor é Jornalista e editor da Valer.

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