Do pensamento do fotógrafo para a máquina de fotografia, os segundos significam uma eternidade. Milésimos deles são suficientes para materializar uma imagem. Uma imagem que de tão instantânea se forma sem que o fotógrafo a veja.
No exato momento em que o olho aberto pisca, imitando o outro fechado. A foto, combinação desse encontro da imaginação com a imagem, também ganhou tempo em sua construção a partir da tecnologia digital que possibilitou a sua visualização logo em seguida, após o click.
Como uma espécie de espelho ao avesso, a fotografia tem seus próprios recursos técnicos que dizem como harmonizar uma intenção com a extensão do olhar, sempre com o suporte da técnica que produz equipamentos cada vez mais facilitadores e avançados.
Mas fotógrafos e máquinas fotográficas sobrevivem, secularmente, das mesmas fontes de alimentos: da Luz do Sol (na alvorada, em solstício ou do crepúsculo) da Lua (nos quartos minguante e crescente, nova ou cheia), do remoto eclipse, quando a brincadeira de esconde-esconde ganha ares celestiais e bota na roda o astro rei e a rainha das estrelas; o Sol e a Lua.
Na frenética busca de se transformar num olho humano, a máquina de fotografia pediu uma luz artificial e com ela o fotógrafo pode se sentir um deus do Olimpo, e como vagalume quebrou o tom da escuridão, mostrou belos contrastes à meia luz; talvez os mais perfeitos, em preto e branco, assim como nos sonhos.
Pobre poeta Charles Baudelaire que ao satanizar o invento da máquina de fotografia, por ela não reproduzir algo que fora feito inteiramente pelo Homem, como as pinturas, se esqueceu de perceber que estas também exigiam telas, pincéis tintas, e molduras; também artefatos tecnológicos utilizados pelo artista.
Quem foi que disse que o tempo não para? Perdoando o exagero da analogia, o fato do fotógrafo imobilizar um momento dá a impressão que ele parou o tempo só para fazê-lo andar novamente nos olhos de outra pessoa.
É quando a foto, resultado da sua produção em parceria com a máquina fotográfica, imobiliza um gavião real cruzando uma montanha; o dorso de um boto na superfície de um rio; a moça na porta da palafita mirando a enchente; o menino que avoa, através de sua pipa, nas alturas; um adeus para quem fica; uma expressão, um gesto, uma surpresa, algo surpreendente.
Uma linguagem para capturar não apenas uma forma, um desenho, um objeto, um ser vivo, mas também sentimentos. Sentimentos que, ao serem revelados, escapam ao controle do focado, estando ele ciente ou não
Essa interpretação fica nítida quando captamos uma desencontrada e corriqueira euforia nas palavras dos colunistas com a imagem dos colunáveis. É quando a fotografia ganha vida própria; é quando a imagem multiplica-se na sua intenção, independente [mente?] da forma.
Um recorte de um espaço/tempo qualquer é traduzido como enquadramento que sugere um ângulo que sugere um movimento que sugere um tipo plano.
Esses comandos formam, com outras ferramentas, a linguagem técnica da fotografia, sem ou com movimento. No lambe/lambe que usava a língua para grudar a imagem no papel, na película 35mm, do cinema, a imagem, seja no quadro 3×4, ou da tela que ocupa os 180° do nosso olho, sempre vai ter um algo mais a dizer. Não apenas por ser testemunha de um momento, de um fato, valendo mais que mil palavras; mas pela quebra do silêncio da alma dos capturados, para o bem ou para o mal deles.
Visitar o passado é um dos prazeres proporcionados pela fotografia. No compartimento das carteiras de bolso, nos porta-retratos, nos álbuns de família, nos livros de formaturas; nos jazigos, na mídia, as fotografias estão lá para causar lembranças. Numa dessas visitas ao um passado recente e muito didático na apreensão da extraordinária relação fotógrafo/fotografia veio à mente alguns amigos, profissionais zelosos dessa arte.
(…) o amarelo da cerveja mais demorada nos copos combinava com as réstias de Sol que empurravam a última ponta de escuro do céu. João Araújo (Pedro Careca), Sidney Mendonça (Catikit), Clóvis Miranda (Criatura), Robson Maia (Nêgo Robson) e João Lúcio (Badboy), todos imaginativos, completavam assim mais um dia de produção. Para eles, as imagens reveladas sempre foram apenas um ponto de partida para novas imaginações. Xis.