ONU pede ações contra “epidemia de falsas informações” sobre coronavírus
Unesco destaca papel do jornalismo livre para barrar desinformação em crise sanitária
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o mundo está lutando contra a pandemia do novo coronavírus ao mesmo tempo que enfrenta uma epidemia de falsas informações.
Numa mensagem de vídeo, divulgada nesta terça-feira (14/4), disse que as pessoas estão assustadas ao redor do mundo e querem saber o que fazer e onde buscar aconselhamentos.
Solidariedade
Para Guterres, este é o momento de se voltar para a ciência e de praticar solidariedade.
Ele afirmou que a epidemia de informações falsas está se alastrando assim como dicas prejudiciais de saúde e até mesmo propagandas enganosas de produtos que não têm a menor eficiência no combate ao vírus.
Guterres frisou que essas notícias falsas predominam e que as teorias de conspiração estão contaminando a internet.
Ele ressaltou que o ódio está se tornando viral assim como a estigmatização de pessoas e grupos.
Confiança
Para o chefe da ONU, o mundo precisa se unir contra o que ele chamou de uma doença cuja vacina é a confiança.
Em primeiro lugar: confiança na ciência. Ele elogiou jornalistas e outros atores que checam as notícias sobre coronavírus e as postagens nas redes sociais para atestar sua veracidade.
Guterres afirmou que as empresas de redes sociais têm de fazer mais para combater o ódio e as premissas prejudiciais sobre a covid-19.
Fatos
Em segundo lugar, o secretário-geral afirma que é preciso confiar nas instituições, baseadas em liderança e governança guiadas por fatos e evidências.
Guterres lembrou que a confiança mútua é fundamental assim como o respeito mútuo. Para ele, a adesão aos ditames dos direitos humanos deve ser a bússola para navegar essa crise global.
O chefe da ONU apelou a todos que se juntem para rejeitar as mentiras e a falta de bom senso que surgem nesse momento.
Resposta de Comunicação
Para combater a situação, o secretário-geral anunciou o lançamento da iniciativa Resposta de Comunicação da ONU para “inundar” a internet com fatos e informações científicas sobre o novo coronavírus.
Segundo ele, o flagelo das informações falsas é um veneno que coloca ainda mais pessoas sob risco.
Guterres finalizou dizendo que com uma causa em comum por fatos e bom senso, é possível derrotar a covid-19 e construir um mundo mais justo, igualitário e resiliente.
Unesco destaca jornalismo livre contra desinformação
Uma mídia livre, acesso à informação e novas tecnologias estão tendo um papel importante na luta contra a pandemia de covid-19, afirmou a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Em entrevista à ONU News, o chefe da Secção de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da agência, Guilherme Canela, disse que “nesta crise sanitária sem precedentes, o papel de um jornalismo livre, independente e plural é, quem sabe, mais relevante do que nunca.”
“O acesso à informação verificada pode salvar vidas, ao mesmo tempo que a circulação desenfreada de desinformação pode ceifar vidas e impactar profundamente o desenho de políticas públicas para o enfrentamento da emergência atual. Nesse sentido, a Unesco tem desenvolvido uma série de ferramentas relacionadas ao mundo da comunicação, mensagens de áudio, campanhas de alfabetização mediática e informacional.”
A Unesco é a agência da ONU com mandato para promover o fluxo livre de ideias. Na atual crise da covid-19, a agência criou várias iniciativas para ajudar a compartilhar informações, denunciar informação falsa e impulsionar o uso de mídias de interesse público. Todos esses recursos estão disponíveis online.
À ONU News, Guilherme Canela destacou as ferramentas voltadas para o público do jornalismo.
“Um centro de recursos está disponível na nossa página, com informações sobre segurança de jornalistas na cobertura da crise atual, sobre como lidar com os processos de desinformação, sobre jornalismo científico. Em particular, recomendamos um manual desenvolvido pela Unesco sobre jornalismo e desinformação e como enfrentar isso. Está disponível também em português e muito brevemente vamos lançar um em linha massivo, em várias línguas, incluindo português, sobre o enfrentamento dessa atual situação, a cobertura, pelos profissionais da imprensa.”
A Unesco também está monitorando o impacto da crise na liberdade de imprensa, na segurança dos jornalistas e no direito fundamental de acesso à informação.
Ajuda
A agência aprovou quatro novos projetos de apoio a jornalistas em países em desenvolvimento, através do seu Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação.
Devido à iniciativa, um grupo de 200 jornalistas mulheres da África Ocidental estarão conectadas através de uma rede online com acesso a materiais sobre cobertura da pandemia.
Na mesma região e no sul de África, também serão beneficiadas 25 rádios comunitárias que servem 250 mil cidadãos de comunidades rurais e marginalizadas.
Já na Índia, 25 meios de comunicação trabalharão com as autoridades de resposta e prevenção de desastres para chegar a comunidades marginalizadas. No Caribe, a prioridade será dada ao combate à desinformação, com 50 profissionais recebendo apoio para confirmar fatos e combater desinformação.
Campanha
A agência da ONU também lançou uma campanha com o tema #dontgoviral, em parceria com a Fundação para Inovação de Políticas, para combater a disseminação de informação falsa em África.
O deputado do Uganda e músico Bobi Wine disponibilizou a sua música para ser usada na campanha e mais de 40 artistas se juntaram à iniciativa.
Em nota, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que “esta crise mostra a importância de um fluxo de informação de qualidade e de confiança, numa altura em que a desinformação e os rumores estão florescendo.”