Daniela Klebis [ Jornal da Ciência]
Os participantes da Marcha Virtual pela Ciência, que acontece nesta quinta-feira (07/04), poderão mostrar na internet onde estão se manifestando em tempo real.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) adaptou para o Brasil o aplicativo Manif.app, ferramenta criada na França e que já vem sendo utilizada no país para manifestações em tempos de coronavírus.
Muito simples de navegar, o aplicativo permitirá que as pessoas mostrem seu apoio à marcha em defesa da ciência e da vida on-line, por meio de um avatar, obedecendo as recomendações da OMS de distanciamento social para evitar a disseminação da covid-19.
Junte-se à nossa Marcha Virtual Pela Ciência no dia 7 de maio! Queremos ver todos participando em nosso mapa online!
Cada avatar representa um único manifestante, que pode estar apenas em um lugar e evento por vez.
O aplicativo usa o serviço colaborativo Open Street Map (equivalente ao Google Maps) e é muito simples de usar.
Qualquer pessoa pode organizar um evento online, convidando outras pessoas a irem ao mesmo lugar por meio de contatos ou redes sociais ou participar de um já organizado.
O manifestante pode personalizar seu avatar, associando-o a uma “placa” na qual escreve seu protesto.
Daí, basta arrastar seu avatar vermelho (representando uma silhueta) para o mapa interativo no local da demonstração e, assim, exibir seu apoio, com seu próprio cartaz. Ele é visível publicamente no mapa, junto a todos os outros avatares.
“Nós utilizaremos o Manif.app para que todos possam marcar presença no dia da Marcha Virtual Pela Ciência, do sofá de suas casas, sem risco de contaminação pelo coronavírus”, comenta a diretora da SBPC, Claudia Linhares.
A cientista é responsável pela tradução do aplicativo ao português brasileiro.
A ferramenta foi criada por Antoine Schmitt, programador e artista francês, apoiado por uma rede de artistas politicamente engajados, em particular pela sua companheira, Hortense Gauthier, artista performática.
“Manif.app é uma página web de manifestação online coletiva em um mapa. Ele foi concebido diante das dificuldades crescentes de se manifestar em muitos países democráticos, por razões de desvio autoritário do poder constituído ou por razões sanitárias, e é claro, sempre muito difíceis, quiçá impossíveis, nos países não democráticos”, conta o programador.
A ideia do Manif.app nasceu durante as manifestações dos Coletes Amarelos (Gillets Jaunes), em 2019, e nos protestos contra a reforma da previdência na França, “ambas fortemente reprimidas com violência pelo governo”, diz Schmitt.
Segundo ele, o confinamento por conta da covid-19 e a gestão catastrófica dessa crise sanitária pelo governo francês também influenciaram na idealização do aplicativo.
“O manif.app nasceu da frustração e do desejo de dar outra forma de poder ao povo.”
A ferramenta é aberta para todos que tiverem interesse de organizar uma manifestação totalmente online. É possível, também, apoiar virtualmente ações que acontecem por todo o planeta.
Lançada nas redes sociais em 15 de abril de 2020, a ferramenta será utilizada por diversas entidades francesas nas manifestações do Dia do Trabalho, em 1º de maio, para substituir as ações físicas nas ruas, evitando, assim, aglomerações de pessoas.
O desenvolvedor do aplicativo informa que as informações dos usuários (detalhes de contato ou informações pessoais) não são compartilhadas com nenhuma entidade comercial ou estatal, e, também, não são transmitidas, armazenadas ou fornecidas de forma alguma a ninguém.
Nenhuma informação privada (número de telefone, número IMEI, seu nome ou outro) é transmitida pela Internet. Conforme esclarece Schmitt, somente os avatares, sua posição e slogans são transmitidos na internet e são visíveis aos visitantes do site. O participante é completamente anônimo.
Professores fazem chamadas

Professores e pesquisadores de todo o País convidam para a Marcha Virtual pela Ciência, que será realizada no próximo dia 7 de maio.
Em Manaus, o movimento contam com o apoio, principalmente, de professores e pesquisadores.
A professora Marilene Corrêa da Silva Freitas, professora e pesquisadora da Ufam e ex-reitora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Marilene Corrêa da Silva Freitas está postando mensagens de convidados em sua conta no Facebook ressaltando a importância da marcha.
As vozes de Manaus defendem o fortalecimento da ciência, da educação, da cultura e a defesa dos povos da Amazônia e sua diversidade sociocultural.
A iniciativa é da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e reúne depoimentos ressaltando a importância da ciência no enfrentamento do coronavírus e a necessidade de todos lutarem pela ciência, pela educação e pela saúde no País. Os vídeos são uma das maneiras que as pessoas podem participar da manifestação que acontece na próxima quinta-feira.
Além de depoimentos, em vídeo ou por escrito, os interessados também podem fazer da Marcha criando ou participando dos painéis online, compartilhando os eventos, notícias e chamadas para a Marcha, e ainda comando forças às duas ondas de tuitaço no dia 7, uma às 12h e outra às 18h.
Renato Cordeiro, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz e conselheiro da SBPC, chama a atenção em seu depoimento para os atuais desmontes que as áreas de CT&I, educação e meio ambiente têm sofrido nos últimos anos.
“Essa Marcha pela ciência nessa quarentena da covid-19 é fundamental como vigília, resistência e denúncia permanente para que possamos proteger e mostrar para a nação a importância da ciência, tecnologia, educação e meio ambiente”.
José Antonio Aleixo da Silva, professor titular do Departamento Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e, também, membro do Conselho da SBPC e presidente da Academia Pernambucana de Ciências, aborda a importância do isolamento social e chama a atenção para a situação crítica que o País está passando.
“Uma crise governamental sem precedentes associada a um obscurantismo cientifico que é traduzido pelos sucessivos cortes e contingenciados de verbas para a educação, ciência e tecnologia, bem como desrespeito frontal ao princípio básico das universidades, que é a autonomia na escolha de seus dirigentes.
A Marcha Virtual pela Ciência também é um protesto a esses desmandos e um pacto pela vida. Vida perdida não tem retorno. Economia se recupera.”
A importância da ciência no enfrentamento da pandemia também é ressaltada por alguns participantes, dentre eles, Kleber Del Claro, professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
“A ciência pode nos dar esperança. Esperança de que através de estudos, dedicação dos pesquisadores e estudantes possam criar soluções como novas vacinas e novos medicamentos. Não apenas para solucionar o problema da pandemia, mas de tantas outras que, infelizmente, virão. Ciência é solução. Ciência é investimento em um mundo melhor e para uma vida melhor. Acreditem na ciência”, diz.
Gustavo Mockaitis, docente na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, pondera que é possível acreditar na ciência, sem renunciar crenças e posicionamentos políticos.
“Todas as grandes crises, especialmente envolvendo saúde como a peste negra, a gripe espanhola, ebola, aids, entre outras, foram mitigadas e contidas, senão resolvidas, pelo conhecimento científico disponível na época. Você não precisa abandonar suas crenças. Você não precisa abandonar seus posicionamentos para abraçar e reconhecer o que a ciência faz por toda a humanidade”, afirma.
Agradecemos este apoio na divulgação da Marcha pela Ciência. Junt@s pela Ciência e as sabedorias que estão comprometidas com um mundo decente e plural.
estamos juntos.
oi, obrigado!