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Valer edita poesia espanhola contemporânea com tradução de Saturnino Valladares

O poeta espanhol é coordenador da Coleção Cima del Canto, da Editora Valer, que traduz autores espanhóis para o português e autores brasileiros para o espanhol. POR WILSON NOGUEIRA

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O poeta, ensaísta e professor da Ufam Saturnino Valladares, aos 18 anos, queria ser García Lorca (1898-1936), por isso, imergiu nos estudos da literatura espanhola e universal.

Em 2010, aos 25 anos, realizou um intercâmbio de graduação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para estudar literatura brasileira e literaturas africanas em língua portuguesa.

Em 2013, foi admitido como professor visitante no Curso de Letras da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ao mesmo tempo em que elaborava a sua tese de doutoramento em Literatura Espanhola, na Universidade de Santiago de Compostela, Espanha.

Em 2015, tornou-se professor concursado de Língua e Literatura Espanhola, ano em que, também, teve a sua tese aprovada. “Eu lecionada, estudava e escrevia a tese”, lembra.

No momento, Valladares coordena o projeto de pesquisa Poesia da Espanha e do Amazonas: análise crítica e tradução, com o envolvimento de acadêmicos da graduação e do mestrado.

Sua produção literária é profícua: quatro livros de poesia – Las almendras amargas, CenizasSecretos del Fénix e Los días azules –, ensaios, traduções, dezenas de artigos e poemas publicados em jornais e revistas especializados, principalmente no Brasil e na Espanha.

Com a sua tese de doutorado, Retrato de grupo configura ausente, ganhou o concurso da Diputación de Ourense, Espanha, e foi publicada em 2017.

Em Manaus, pela Editora  Valer, Valladares já publicou em edição bilíngue espanhol/português, o livro de poemas Segredos da Fénix.

Na editora, compartilha a coordenação da Coleção Cima del Canto, que pretende apresentar aos leitores brasileiros os poetas espanhóis mais significativos das últimas décadas.

Quanto ao seu inspirador García Lorca, Valladares afirma: “[…] hoje, com muita humildade, me conformo com continuar estudando e dando meu melhor”.

Nesta entrevista, ele aborda, entre outros assuntos, a sua relação com a literatura brasileira, com os escritores locais e sobre os seus projetos editoriais.

Confira:

Nem sempre os autores e autoras mais lidos em seus países são os mais lidos em outros países. Isso se repete entre os autore(a)s espanhóis em relação ao Brasil?

Penso que não, pois a globalização também afetou ao mercado editorial, e as grandes editoras, que publicam aos autores espanhóis mais reconhecidos, levam estas obras para os países hispanofalantes, mas também para o Brasil e para os outros países.

E os autores brasileiros mais lidos na Espanha são os mais lidos no Brasil? Pergunto-lhe por que o senhor já está há algum tempo por aqui.

Não. Há dez anos fiz um intercâmbio na Universidade Federal da Bahia para estudar literatura brasileira e literaturas africanas em língua portuguesa. Naquele momento, os únicos autores brasileiros que eu tinha lido eram Paulo Coelho e Jorge Amado. Infelizmente, os autores brasileiros mais interessantes ainda não chegaram ao grande público espanhol.

Por que ocorrem essas contradições?

Penso que são contradições lógicas. Por um lado, as editoras são empresas que precisam vender livros e, por outro lado, as pessoas leem menos na atualidade.

Todavia, muitos desses leitores gostam de uma literatura de evasão que não exija um grande esforço intelectual.

Esta contradição pode se exemplificar de um modo muito simples: Paulo Coelho é um dos autores que mais livros vende no mundo, e um gênio literário como Guimarães Rosa é quase desconhecido nos países que não falam português.

Deixando a um lado o prazer pessoal, se fossemos os donos de uma editora espanhola, está claro que seria mais rentável publicar a Coelho que a Guimarães Rosa.

Paulo Coelho não é visto com bons olhos por intelectuais brasileiros. Então, quais são as suas impressões sobre esse autor?

Um dos grandes acertos de Cervantes no Quixote foi criar um novo tipo de leitor.

Através do perspectivismo e do jogo de autores, tradutores e narradores, Cervantes contribui a gestar um novo leitor entendido e cúmplice, a quem dirige prólogos e preliminares que reclamam sua atenção e convidam a duvidar sobre o que está sendo lido.

Paulo Coelho não aprendeu a lição cervantina.

O leitor sempre estabelece um pacto tácito com a obra literária: acreditar no que se lê.

Porém, nos quatro romances que li de Coelho, o narrador foge da verossimilitude e apresenta soluções excessivamente ingênuas para os conflitos humanos.

A vida real é um pouco mais complicada. Como leitor, não consigo estabelecer esse pacto tácito com a narrativa de Coelho.

Em definitiva, é um autor que merece meu respeito, pois consegue chegar e emocionar a milhões de pessoas em todo o mundo, ainda que sua escrita não me interesse.

Quero a sua opinião sobre a estética das duas línguas quando comparadas na produção literária?

No meu gosto pessoal, o primeiro grande escritor brasileiro é Machado de Assis.

Não negando o valor da literatura produzida desde o período colonial até o romantismo, esta tem como referência as literaturas europeias.

Por exemplo, comparando o gênero poético, depois de ter lido a poesia barroca espanhola – Góngora, Quevedo, Lope de Vega, Calderón de la Barca etc. –, a poesia de Gregório de Matos e, posteriormente, a de Casimiro de Abreu ou a de Castro Alves, esteticamente não me resultaram interessantes, ainda que sim me atraiu a temática de muitas composições, como O navio negreiro de Castro Alves que, por outra parte, tem momentos esteticamente sublimes.

O Brasil é um país mais jovem. Portanto, penso que pode se estabelecer essa comparação desde Machado até a atualidade, mas não antes.

Convém lembrar que os gênios dos denominados Séculos de Ouro da literatura espanhola viveram nos séculos XVI e XVII.

Aos quatro que já citei deve se somar Garcilaso de la Vega, San Juan de la Cruz, Fray Luis de León, Fernando de Rojas, Miguel de Cervantes…

Da literatura brasileira, quais autore(a)s contemporâneos o senhor destaca com potencial para se tornarem clássicos universais, assim como Machado de Assis.

Os autores que mais me interessam são Machado de Assis e Guimarães Rosa na prosa; no teatro, Nelson Rodrigues; e na poesia, o Drummond.

Estes quatro – e alguns outros – fazem parte dos meus clássicos e, por justiça, considero que devem fazer parte do cânone literário universal.

O senhor tem contato com a literatura produzida no Amazonas. O que acha dela?

Penso que há excelentes autores no Amazonas.

Eu cheguei aqui há sete anos e tive a oportunidade de ler e de tratar pessoalmente a muitos dos escritores que admiro, como Tenório Telles, Zemaria Pinto, Aldísio Filgueira, Astrid Cabral, Dori Carvalho, José Seráfico, Márcio Souza, Paes Loureiro ou Miltom Hatoum.

Com certeza esqueço algum outro. Além dos consagradíssimos poetas Luiz Bazellar e Thiago de Mello, penso que há autores jovens que estão desenvolvendo uma literatura muito interessante, como o poeta Zé Luiz Gonzaga e o contista Thiago Roney.

No labor estritamente ensaístico, acho admiráveis os trabalhos de Neiza Teixeira, Marcos Frederico Krüger ou Marilene Corrêa.

Qual o seu tema de estudo sobre literatura a partir das pesquisas que desenvolve na universidade do Amazonas?

Minha área é a literatura espanhola, principalmente a poesia produzida nos últimos sessenta anos.

Meu projeto de pesquisa se titula Poesia da Espanha e do Amazonas: análise crítica e tradução.

Ainda que seu título seja muito explícito, posso aprofundar que meu propósito é abordar obras poéticas espanholas e do Amazonas brasileiro que nunca foram traduzidas para o português/espanhol. Também estou interessado no estudo do erotismo de autores como José Ángel Valente, Jaime Gil de Biedma ou Claudio Rodríguez Fer.

Sobre estes dois últimos autores estou dirigindo dissertações de mestrado na Ufam.

O senhor é poeta. Qual a importância de “ser poeta” na sua vida? Como percebeu que poderia escrever poesia?

Quero pensar que sua importância é máxima porque a poesia é a grande paixão da minha vida.

Porém, eu não procuro o reconhecimento. Não me interessa. Seria bonito, mas fútil.

O importante para mim é levar um estilo de vida poético: deixar um tempo para ler poesia todos os dias, escrever alguns versos quando for possível, dar aulas de literatura, discutir poesia e beber vinho com grandes amigos como Tenório Telles, Zemaria Pinto ou Allison Leão.

Quando tinha dezoito anos eu queria ser García Lorca, mas hoje, com muita humildade, me conformo com continuar estudando e dando meu melhor.

Em relação com a segunda pergunta, minha relação com a poesia foi sempre muito natural.

Não houve uma descoberta. Sempre gostei do ritmo e das significações das palavras, das músicas com conteúdo.

Aos doze anos já escrevia versos para uma namoradinha, logicamente sem nenhum valor literário e com excessiva carga emocional.

Desde esta época sempre me acompanhei da poesia.

Pela Editora Valer, o senhor é coordenador da Coleção Cima del Canto e tradutor de importantes poetas espanhóis contemporâneos. Quais os motivos que o levaram a se engajar nesse projeto. E quais os critérios de escolha dos poetas para compor essa coleção.

Tenório Telles, Neiza Teixeira e eu coordenamos a Coleção.

Eu percebi que García Lorca era o último poeta espanhol para a maioria dos brasileiros, pois não havia livros de poemas de autores posteriores.

Minha tese de doutorado tratou sobre os poetas espanhóis que começam a publicar na década dos anos cinquenta do século passado.

Eu apresentei “meus poetas” ao Tenório, e ele ficou entusiasmado com José Ángel Valente, Antonio Gamoneda, Claudio Rodríguez Fer…

Então, entendemos que desde a Valer podíamos encher esse vazio com os autores que eu melhor conheço: excelentes poetas dos últimos cinquenta anos que nunca foram publicados no Brasil.

Até agora publicamos três livros: Não amanhece o cantor de José Ángel Valente, Uma temporada no paraíso de Claudio Rodríguez Fer, e Livro do frio de Antonio Gamoneda. Os Poemas póstumos de Jaime Gil de Biedma será o próximo número da coleção.

Qual a repercussão das suas traduções na Espanha?

Até agora penso que é mais anedótica que significativa, o que é lógico, pois estamos introduzindo literatura espanhola no Brasil, e não ao contrário.

Porém, os livros da coleção estão sendo lançados na Espanha e foram resenhados por algumas revistas especializadas.

Os poetas Claudio Rodríguez Fer e Antonio Gamoneda ficaram muito satisfeitos com estas edições.

Acredito que a importância deste projeto será reconhecida em alguns anos tanto na Espanha quanto no Brasil.

O que lhe motivou a morar na Amazônia?

Eu cheguei como professor visitante da Ufam em 2013. Depois fiz um concurso e fiquei.

Eu gosto da Amazônia, gosto das pessoas, gosto da comida. Minha relação com a poesia é similar que a que mantenho com o Amazonas: um encontro definitivo.


Obras de Saturnino Valladares

Livros publicadas na Espanha

Los días azules. Salamanca: Celya, 2013.

Secretos del Fénix. Toledo: Celya, 2010.

Cenizas. lugo: Scio, 2005.

Las almendras amargas. Lugo: Scio, 2000.

Livros de ensaio publicados na Espanha

Poemas a valente. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 2019.
Retrato de grupo con figura ausente. edición y análisis de la correspondencia entre JOSÉ ÁNGEL VALENTE y los poetas españoles de su edad. Ourense: Diputación de Ourense, 2017.

LIVROS DE POESIA publicados no Brasil

Segredos da Fênix. Manaus: Valer Editora, 2017.

Vaga-lumes ao meio dia. Manaus: Valer Editora, 2020*.

Será publicado este ano.

TRADUÇÕES publicadas no Brasil

Não amanhece o cantor, de José Ángel Valente. Manaus: Valer Editora, 2018.

Uma temporada no paraíso, de Claudio Rodríguez Fer. Manaus: Valer Editora, 2019.

Livro do frio, de Antonio Gamoneda. Manaus: Valer Editora, 2019.

Poemas póstumos, de Jaime Gil de Biedam. Manaus: Valer Editora, 2020*. Será publicado este ano.

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