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Reunião de povão, em 1987, decidiu que Parintins preferia bumbódromo a hospital

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Está registrado na Câmara Municipal de Parintins que os parintinenses presentes a uma reunião pública com o então governador Amazonino Mendes, em 1987, preferiram um bumbódromo de concreto a construção de um hospital todo equipado.

[o governador] perguntou à massa popular que se encontrava reunida nesse localidade, qual era o desejo deles: um hospital todo equipado ou um Bombódromo novo de concreto? Todos de braços levantados pediram um novo Bumbódromo […]

O bumbódromo prometido veio a ser inaugurado em junho do ano seguinte, em substituição a um tablado de madeira, onde se apresentavam os bois-bumbás Garantido e Caprichoso.

O equipamento impulsionou o festival folclórico da cidade, tornando-o conhecido no Brasil e no exterior..

Mas a falta de um hospital equipado ainda não foi superada, mesmo que as reivindicações nesse sentido não tenham cessado.

A cidade, hoje com mais de 114 mil habitantes, é servida por dois hospitais, mas todos sem equipamentos e sem atendimento de alta complexidades.

A pandemia do novo coronavírus reacendeu a discussão em torno da carência dos serviços de saúde no municípios, principalmente pela falta de UTIs com respiradores mecânicos.

A inexistência de atendimento aos casos graves, por falta de equipamentos, tem levado pacientes à morte antes mesmo da pandemia.

Os pacientes graves de covid-19 têm sido transferidos para Manaus através de UTIs aéreas, assim como ocorre com os demais municípios do interior do estado.

O governador Wilson Lima e o prefeito de Parintins, Frank Bi Garcia, anunciaram uma ala para tratamento de pacientes de covid-19 em um dos hospitais locais e a instalação de dez UTIs.

A decisão da “massa” pela construção do bumbódromo de concreto está no livro História e Memória Política do Município de Parintins, volume III, 1977-1988, publicado em 2017, pela Câmara Municipal.

O festival é tratado no trecho que vai das páginas 360 a 366 e revela questões que, nos dias de hoje, não deixam de ser curiosas, tais como: o transbordamento das querelas entre as diretorias dos bumbás para a rádio Alvorada, então única emissora da cidade, e para  plenário na Câmara, e evidência do desvio de recursos públicos destinados ao festival.

Publicamos, a seguir, ipsis litteris, esses registros, porque são reveladores de trechos da história dos primeiros momentos de inserção dos bois-bumbás de Parintins no calendário de eventos turísticos do estado e do Brasil.

Trechos do livro

“No início desta legislatura, com relação ao Festival Folclórico de Parintins, se observou que alguns parlamentares queriam evitar um maior envolvimento do poder público com essa manifestação cultural, a qual já dava indícios de crescimento e disseminação além das fronteiras do município.

O vereador Admilson Duarte, em plenário, comentou a respeito de uma entrevista que concedeu a uma emissora de rádio da cidade da sua opinião em relação a esse assunto.

[…] Falou que deu entrevista ao repórter da Rádio Alvorada e disse que está achando estranho o envolvimento do poder público no festival da maneira como está acontecendo. Falou que existem problemas mais graves a ser tratados. Falou que o senhor vice-prefeito está tomando caminho que não deve. Em aparte, o edil José Maria [disse] que ele não é parintinense e fica a causar problemas acusando alguns parintinenses da direção do Caprichoso […] Raimundo Desterro, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, falou que está surpreendido por motivo do Festival está sendo motivo de debate nesta casa, pois  acha que não está havendo desentendimento. Em aparte, o edil Admilson falou que […] existem necessidade mais premente a exemplo os buracos das ruas. Falou que o vice-prefeito pretende superar o grupo folclórico com sua incoerência. O edil Raimundo Desterro disse que está dividindo as famílias […] (Livro de atas 1982-1983, p. 116, frente e verso)

O vereador José Maria Pinheiro concorda com a atitude de alguns vereadores; inclusive o presidente da Mesa Diretora apresenta na tribuna da Câmara o seu repúdio contra essas decisões. A seguir o seu pronunciamento:

[…] falou sobre a decisão do Presidente desta Casa sobre a decisão de se falar no Festival nessa Casa.Falou que no Regimento não tem nenhum item que proíba o vereador falar. Falou que a direção do Caprichoso vem brigando contra um prepotente e incapaz, e que é a vergonha dos filhos desta terra […] (Livro de atas 1982-1983, p. 119, verso).

O Executivo Municipal responsável pela organização e concessão de verbas para o Festival Folclórico de Parintins, ao se aproximar mais uma realização desse evento, instituiu uma comissão por meio de Decreto Municipal com a responsabilidade de organizar e prestar contas dos gastos.

O vereador José Barros vendo que o seu nome está indicado para acompanhar e fiscalizar o evento e prestar relatório, falou:

[…] sobre a sua designação para acompanhar o Festival Folclórico de Parintins e depois dar relatório. Esclareceu que o Executivo criou uma Comissão através de uma Decreto Municipal e que prestará contas após o término do Festival, onde está Casa tomará conta de tudo que ocorrer. Não aceita a designação por achar que não terá condições de fiscalizar […] ((Livro de atas 1982-1983, p. 124, verso).

O Festival Folclórico , neste ano de 1983, foi bastante debatido na Câmara Municipal. O Presidente, segundo Livro de Atas 1982-1983, p. 128, verso, consultou o Plenário a respeito a respeito de uma resolução de n.º 02/82 – CMP, a qual suspende as sessões na Câmara no período do Festival Folclórico. “perguntou se os senhores edis concordavam em suspender as sessões até o dia 30 de junho o que foram unânimes.

Ainda sobre essa manifestação folclórica, o edil Orlando Hatta faz o seguinte comentário:

[…] Falou sobre o Folclore que acha, em termos de educação e cultura, não aceita o desentendimento que houve entre a Comissão do Boi Caprichoso e do Sr. Prefeito Municipal, achando que não houve o diálogo tão necessário às pessoas de brios e bom senso para que houvesse o entendimento tão necessário. Falou que se digladiaram através da Rádio em verdadeiro desrespeito ao povo de Parintins. Falou sobre o dinheiro gasto com os cantores importados que levaram vários milhões que deveriam ficar em Parintins, o que vai quebrando a força do festival […] (Livro de atas 1982-1983, p. 130).

O Festival crescia e aumentava a revanche entre as suas agremiações, Garantido e Caprichoso. A festa a cada ano atraia cada vez mais a população a prestigiar o evento enfraquecendo outras manifestações culturais.

O edil José Maria Pinheiro, no Livro de Atas 1985/1985, p. 57, frisou que “a festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo vem sendo ofuscada pelo Festival Folclórico. Não há mais Clube de Futebol Tradicional. Festa de São Benedito não realiza mais”.

O vereador José Maria Pinheiro, um dos que mais lutava em favor do crescimento e reconhecimento dessa Festa Popular, conforme está contido no Livro de Atas 1984/85, p. 96,  verso, apresenta um Projeto de Lei n.º 07/85, em que “fica oficializado o dia 30 de junho como o “Dia do Folclore Parintinense” em homenagem à cultura popular de Parintins”.

Através da aprovação de um Requerimento de n.º 09/85, do vereador Admilson Duarte, conforme Livro de Atas 1985, p. 14 e 15, foi homenageado,  desta feita, um dos grandes defensores da cultura parintinense, o ex-vereador e radialista Messias Augusto das Neves, com a inserção do seu nome ao Bumbódromo.

As outras manifestações populares, como por exemplo, quadrilhas, pastorinhas e danças, não foram encontrados registros, nesta pesquisa, nos documentos oficiais da Câmara, desta Legislatura.

A participação do Governo do Estado com a aplicação de recursos financeiros ao Festival Folclórico de Parintins passa a ser mais efetivo a Prefeitura Municipal de Parintins nesse período, é quem recebia esses recursos para repassar aos grupos folclóricos.

A esse respeito os vereadores José Barros e José Maria Pinheiro enfatizam:

[…] José Barros disse que a EMATER enviou à Prefeitura a Importância de 150 milhões para ajudar os grupos folclóricos e que estes não estão recebendo o total […] o edil afirmou que não pode vir 150 milhões para os bumbás ( e que soube que só deram 10 milhões para cada) pois a situação do Estado não permite […]” (Livro de Atas 1985/1986, p. 17, frente e verso.

O sucesso do Festival já atraia muitos visitantes, principalmente da Capital do Estado, aumentando a torcida dos dois bumbás e, por conseguinte, dos ingressos e dos camarotes provocando protesto de alguns parlamentares, como, por exemplo, o vereador José Maria que fez um comentário, descrito no Livro de Atas 1985/86, p. 26, dizendo: “já começo a descordar do preço elevado do camarote, onde só o rico pode comprar e o pobre assistir do chão, pois a festa é do povo”.

O mesmo vereador habituado à reivindicação quando detectava alguma irregularidade, desta vez após a realização e sucesso da Festa Folclórica realizada no Bumbódromo, denominado Messias Augusto, mas conhecido como Tabladão do Povo, parabenizou, conforme registro no Livro de Atas 1985/86, p. 53, verso, “o sucesso do Sr. Prefeito Municipal Gláucio Bentes Gonçalves pelo sucesso do Festival Folclórico de Parintins nestes XX anos.

Por causa do ponto positivo dessa manifestação folclórica em relação à festividade e por ter liberado a venda dos camarotes aos bumbás, o Executivo Municipal, responsável peça organização do evento, recebe de alguns parlamentares municipais, o devido conhecimento, conforme registro a seguir:

[…] o Vereador Raimundo Desterro apresentou o Projeto de Lei n.º 003/86 – CMP – concede o título de Honra ao Mérito ao Sr. Gláucio Bentes Gonçalves, Prefeito Municipal de Parintins, e dá outras providências. Falou de uma pessoa que quando erra e querendo acertar, o Sr. Gláucio Bentes Gonçalves, que pela sua atitude e evitando uma má querência dos bois de Parintins, desejando que o festival seja brilhante, deu os camarotes e cadeiras aos bois, para ajuda-los. Apresentou a Moção em reconhecimento da Câmara Municipal de Parintins ao Sr. Prefeito Municipal à frente de sua administração. Levando apoio e confiança ao Executivo […] O Sr. Presidente consultou ao Plenário se [se aprovava] o Projeto de Lei n.º 003/86 – CMP – do edil Raimundo Desterro. Sendo aceito por unanimidade […] (Livro de Atas 1986/1987, p. 18, frente e verso).

A partir de então o Festival Folclórico de Parintins ganhou fama nacional e até internacional. A esse respeito o Vereador Raimundo Desterro, segundo o Livro de Atas 1986/1987, p. 41, comentou “sobre a abertura do 21º Festival Folclórico, afirmando que o mesmo é conhecido até no exterior pela nossa cultura”.

Já se cogitava, a partir de então, uma parceria do Governo Municipal e Governo Estadual, uma fórmula de melhorar a estrutura do palco em que essa festa era realizada. Segundo o Ex-Vereador desta Legislatura, o Sr. Antônio Pontes:

O Sr. Governador do Estado, na época, o Sr. Amazonino Mendes, em um encontro com a população parintinense, realizado em frente ao Bumbódromo de madeira, perguntou à massa popular que se encontrava reunida nesse localidade, qual era o desejo deles: um hospital todo equipado ou um Bombódromo novo de concreto? Todos de braços levantados pediram um novo Bumbódromo, o que ficou firmado o compromisso do Governador.”

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