Livro revela segredos do mercado bilionário dos sites da desinformação
A receita gerada por publicidade programática de 20 mil sites classificados como Desinformadores alcançou US$ 235 milhões, aproximadamente 1,19 bilhão de reais.
O livro Desinformação: crise política e saídas democráticas para as fake news, lançado pela Editora Venete, em parceria com Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, no dia 9/6, terá mais quatro dos seus cinco tópicos debatidos ao vivo por seus respectivos autores/as e convidados/as, segundo o calendário no fim desta matéria.
O primeiro debate ocorreu no lançamento, por meio de uma live no Facebook e no YouTube, com a participação do jornalista Leonardo Sakamoto, e da organizadora Helena Martins.
A obra traz como tema as preocupações das sociedades democráticas a partir de casos como o das eleições presidenciais norte-americanas de 2016, quando foi descoberta toda uma lógica de uso de dados pessoais para segmentação de informações, muitas delas inverídicas ou descontextualizadas, demonstrando não se tratar apenas da existência das chamadas fake news, mas de um processo complexo e orientado de manipulação.
As eleições brasileiras de 2018 também foram palco fértil para a disseminação de desinformação em massa.
Por isso, nos últimos dias, o embate em torno do Projeto de Lei 2630/2020, apelidado de PL das Fake News, dominou as redes sociais e colocou, mais uma vez, a desinformação no centro das atenções.
Enquanto organizações defensoras da liberdade de expressão defendiam o adiamento da votação e maior participação no processo de regulação das fake news no país, parlamentares e figuras emblemáticas da esquerda apoiavam o projeto na ânsia de resolver a questão.
O livro, todavia, adverte que o problema é mais complexo do que se possa imaginar e, assim, precisa ser amplamente debatido e conhecido pela sociedade ante da tomada de quaisquer decisões apressadas.
O prefácio da obra é do professor e pesquisador Sérgio Amadeu, além da apresentação de Helena Martins, professora da Universidade Federal do Ceará, integrante do coletivo e organizadora do livro.
Atualmente, existem quatro ações no Tribunal Superior Eleitoral aguardando julgamento e que podem levar à cassação da chapa eleita, formada por Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão.
Nesse cenário de acaloradas discussões, o livro busca definir o conceito de desinformação e relacionar à crise política; entender as estratégias utilizadas em diferentes países para enfrentar esse problema e apresentar propostas concretas para lidar com a questão.
” desejo de compreender o que ocorre no ambiente comunicacional contemporâneo e a dimensão política disso guia nossos esforços neste livro. Optamos por não usar aqui a expressão fake news, pois entendemos que ela não é capaz de explicar o problema para além de sua aparência. Na tentativa de superar esse limite, pesquisadores, instituições e grupos da sociedade civil, entre os quais o Intervozes, têm optado por adotar o conceito de desinformação, com o qual se busca ressaltar a intencionalidade na produção e na propagação de informações falsas, equivocadas ou descontextualizadas para provocar uma crise comunicacional e, assim, obter ganhos econômicos e/ou políticos.
Helena Martins.
“Esse livro é uma iniciativa importante para aprofundar o debate sobre o tema no Brasil. Além de discutir o conceito de desinformação, com referências históricas, questiona o papel da mídia e das grandes plataformas digitais no cenário atual”, diz Leticia de Castro, editora da Veneta.
Para o doutor em Ciência Política pela USP e professor da Universidade Federal do ABC, Sergio Amadeu, o livro é uma importante contribuição para todos aqueles que desejam enfrentar o fenômeno da desinformação.
“O livro traz as especificidades das fake news, o debate sobre o papel do jornalismo, as dificuldades de compreender e enfrentar a opacidade da gestão algorítmica da informação, a responsabilidade das plataformas; enfim, o fenômeno da desinformação é detalhado. Discutem-se as formas de contenção e de redução da velocidade de disseminação desses processos desinformativos. Também são apresentadas proposições para a detecção e enfrentamento da desinformação. Sem dúvida, é um trabalho de fôlego que permitirá às pessoas, pesquisadoras ou leigas, perceberem que é preciso agir contra a organização do poder erguido com base no desprezo aos fatos e à realidade”, afirma.
Lucro alto com desinformação
A desinformação é, também, um subproduto do modelo de negócio estabelecido pelas plataformas digitais, um modelo que se baseia na concentração e na exploração indevida de dados pessoais de usuários/as.
O Índice Global de Desinformação, entidade que acompanha o alcance e os efeitos da desinformação no mundo, realizou uma pesquisa que concluiu que a receita gerada por publicidade programática – prática que consiste em usar softwares para comprar e vender espaço publicitário na web – de 20 mil sites classificados como Desinformadores alcançou US$ 235 milhões, aproximadamente 1,19 bilhões de reais.
O maior serviço de mídia programática do mundo é do Google. A empresa está em 70% dos sites de desinformação analisados, acumulando US$ 86,7 milhões, cerca de 439,5 milhões de reais.
A principal ferramenta utilizada para propagação de desinformação no Brasil é o WhatsApp.
Em fevereiro de 2020, a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel revelou que o mensageiro está instalado em 99% dos smartphones brasileiros. Entre os usuários do aplicativo, 98% disseram que o acessam todos os dias ou quase todos os dias.
O aplicativo, que possui cerca de 130 milhões de usuários no Brasil, foi monitorado por uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que revelou que 73,7% das notícias falsas sobre o novo coronavírus circularam pelo WhatsApp. Outros 10,5% foram publicadas no Instagram e 15,8% no Facebook.
Em meio à pandemia, o problema da desinformação revelou-se difundido pelos mais diversos estratos sociais, motivo que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a declarar, na primeira quinzena de abril de 2020, existir uma “perigosa epidemia de desinformação”, responsável pela proliferação de conselhos danosos para a saúde e falsas soluções.
No Brasil, no fim de fevereiro, quando a pandemia apenas anunciava seu impacto no país, o Ministério da Saúde divulgou que, entre 6.500 mensagens que a pasta recebeu e analisou entre 22 de janeiro e 27 de fevereiro, 90% eram relacionadas ao novo vírus. Do total ligado ao coronavírus, 85% eram falsas.
O livro já está à venda no site da Editora Veneta.
Fonte: Da Redação com o Intervozes
Calendário de debates
O lançamento ocorreu no dia 9 de junho,
16 de junho, às 16h:
Desinformação, capitalismo e pandemia: o caso do PL Fake News
Sergio Amadeu: sociólogo, professor da UFABC e ativista da liberdade na rede
Vanessa Galassi: jornalista e integrante do Intervozes
23 de junho, às 16h:
Desinformação como estratégia política
Eduardo Amorim: jornalista e integrante do Intervozes
Ramênia Vieira: jornalista e integrante do Intervozes
João Guilherme dos Santos: pesquisador no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD)
Mauro Porto: professor da Tulane University (EUA)
30 de junho, às 16h:
Saídas democráticas para a desinformação
Ana Carolina Westrup: publicitária, professora da UFS e autora do capítulo
Bia Barbosa: jornalista e integrante da Coalizão Direitos na Rede
Gabriela Almeida: pesquisadora da UnB
7 de julho, às 16h:
Saídas para a desinformação: educação midiática para além das salas de aula
Convidadxs a confirmar!
Os debates serão transmitidos pelo canal do Intervozes no YouTube: youtube.com/intervozes