2020 ficará na lembrança de nossa população como um ano que deixará marcas profundas em função da enxurrada de situações que envolvem nossa vida nos segmentos biopsicossocial e espiritual.
Vivemos um isolamento social, que não foi cumprido à risca, com a intenção de preservar a nossa vida da tal temida infecção por um vírus desconhecido e alto nível de letalidade.
Concomitantemente, nos vimos às voltas com situações de desrespeito à dignidade humana, que impedem a convivência em paz na sociedade.
Tudo toma proporções gigantescas a partir do caso George Floyd (USA), assassinado por um policial branco por asfixia, que levantou o mundo inteiro a uma discussão que sempre foi jogada para baixo do tapete, o racismo, o preconceito. Intensas e imensas passeatas foram realizadas visando mostrar a necessidade do respeito ao ser humano.
E não foi diferente no Brasil, que apesar de ter maioria de sua população negra, vive um processo de racismo, (pré)conceito, racismo estrutural, baseado nos valores de uma sociedade branca que busca desde sempre o embranquecimento e a desumanização de sua população preta, considerada como uma das maiores populações negras fora da África.
Lembrando, ainda, que nossa população negra é muito maior do que a maioria dos 54 países africanos, perdendo apenas para a Nigéria.
Nosso país apresentou casos como os de Marielle, João Paulo, Ágatha Félix e, mais recente, de Miguel, além de questões entre os ditos “famosos” e outros que não são veiculados na mídia explicitando o preconceito e o racismo.
Pergunta-se: Qual o motivo de estarmos falando sobre esse assunto e por que devemos todos nos preocupar com a questão da negritude no Brasil? Quem tem o lugar de fala?
Eis a questão, o termo “lugar de fala” foi difundido erroneamente como sendo um espaço que somente o negro pode falar sobre o negro, o homoafetivo sobre o homoafetividade, a feminista sobre o feminismo. Ledo engano.
Em sua obra O lugar de fala (2017), Djamila Ribeiro aponta que não podemos confundir o lugar de fala com a questão do protagonismo, e que se o fizermos estaremos sendo preconceituosos.
O lugar de fala deve, principalmente, levar à reflexão do branco, qual o seu papel nesse processo, que ele reflita em não agir em uma relação de dominação impedindo a relação de poder (das possibilidades) das consideradas “minorias”, que na realidade são as maiorias.
Então, não podemos confundir que se queira determinar o que é bom para essa ou aquela população, isso já fazemos desde 1500.
É importante tomar consciência e legar a todos indivíduos que se tornem sujeitos e protagonistas de suas vidas, e a sociedade, escute e faça a reflexão da necessidade da voltar à humanização, tornando a população, sem definição de cor ou raça, agente de transformação e de empoderamento, ocupando seu lugar de destaque partindo de suas necessidades, ditas por si, e não por alguém que “acredita” saber o que é melhor para todos, deixando assim de uniformizar um comportamento geral.
Precisamos refletir, respirar e voltar a sermos humanos respeitando o outro em sua complexidade, pois todas as vidas importam.
É preciso respirar!
*O autor é Mestre em Psicologia, Especialista em Clinica Social, Professor do Centro Universitário Fametro.