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#TBT Para reviver junho em Parintins [Por Wilson Nogueira]

Perguntaram ao meu papai quais lembranças ele tinha de Parintins. Suas lembranças  são minhas também, de tanto ouvi-lo contar, recontar, encenar. Ele e toda essa curuminzada que cresceu e hoje são meus tios e tias, gente querida da baixa que hoje, dia de São João, tá mais animada porque o boi do povão, o Garantido, tá nas ruas sendo lindo, que é o que ele sabe bem ser ♡  (Dassuem Nogueira, doutoranda em em Antropologia pela UFSC, Facebook)

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Lembro-me dos meus pais, Adolfo e Júlia (ambos moram hoje entre as estrelas). Vida dura! Oito crianças à mesa nem sempre farta. Porém, feliz!

Lembro-me da Baixa da Xanda na cheia, o abrigo dos meninos e meninas a mergulharem nas águas barrentas todas as manhãs e tardes, para tomar banho, para disputar manja, para comprar peixes frescos vendidos antes da atracação das canoas. Vida feliz! Corpos líquidos.

Lembro-me das noites juninas. O boi Garantido a bailar as toadas do velho Lindolfo Monteverde. Certo dia Lindolfo partiu, mas a sua voz, de tão maviosa e potente, ecoou mundo afora, e até hoje encanta os mais belos e mais distantes cantos. Vida lúdica! Brincadeira plena, para além dos açoites da realidade.

E assim se ia junho, boi no curral, boi na rua; fogueiras, balões, rojões, mingau de arroz, canjica de milho, quentões, namorações…

E lá um dia, por ali aparecia a dona Aurora seguindo o Caprichoso. A bonecona, desengonçada, arrastava a criançada.

Lembro-me da rapaziada nas peladas do curral do Garantido, no campo do Pastor Lessa. Saúde! Trança de papagaio de papel. Jogo de pião de goiabeira. Barra-bandeira, trinta e um alerta!

Lembro-me do Circo do Nigó e do Fifi, filhos do Argentino (Pai Francisco do Garantido) e da Dona Tatá. Éramos todos artistas: equilibristas, mágicos, malabaristas, engolidores de fogo, trapezistas, palhaços da melhor palhaçada.

Lembro-me dos arraiais dos santos e santas. Devoções. A disputa musical entre calouros. Os recadinhos do aparelho de som do palanque. O teatro de rua: Du Sagrado, o Cristo; Zaca, o soldado romano implacável.

Lembro-me do mercadão! Fartura. Jaraqui das Lages no balde! Bamburrada para vender e doar. Valia a pena esperar um pouquinho mais, e voltar para casa com uma cambada na mão. Via-me, lá adiante [que é o agora], jogando conversa para os ares, com outros velhos sabedores das coisas, dividindo os bancos da praça, de cara para o mercadão, para o riozão Amazonas.

Lembro-me do Grupo Escolar Waldemar Pedrosa, da Escola São José Operário, do Colégio Batista. Eu, irrequieto! Os números do meu Boletim escolar? São só pra mim.

Lembro-me das histórias contadas pelo Piquichito, marido da dona Sabá, pai do Gudu e do Ladico. Fantástico-maravilhoso. Viajei com ele na canoa Paquita, que cruzava os ares amazônicos nas asas dos aviões. Sempre de carona.

Lembro-me do pôr do sol. Boniteza. Só merecidos olhos veem a bola de fogo mergulhar nas águas amarelas.

Lembro-me da partida. Dor sentida. Olhei para o cais, para a Baixa da Xanda, até perder de vista a cidade que se encolhia e a vislumbrar a metrópole que se espichava à minha frente. Para trás, a saudade, a lembrança doída; para frente, a dureza do desconhecido, o desafio das novas conquistas.

Lembro-me, assim, da Parintins que nunca saiu de mim.


Também publicado em a Critica/AM

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