Garimpagem e desmatamento levam Covid-19 aos indígenas da Amazônia
O alerta é de pesquisadores de instituições que fazem o monitoramento da região
A nona edição da série de webinários População e Desenvolvimento em Debate, realizada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), foi marcada pela preocupação dos pesquisadores com o avanço da Covid-19 sobre as populações indígenas da Amazônia.
Na ocasião (24/6), foi debatido o tema A pandemia e a crise ambiental e sanitária na Amazônia, com ênfase no acirramento das desigualdades e os riscos identificados na região, a partir da relação entre população e ambiente.
O pesquisador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA), Tiago Moreira, chamou a atenção para situação dos povos indígenas na Amazônia em meio à pandemia da COVID-19.
Disse que o desmatamento dentro das terras indígenas, consideradas áreas protegidas, aumentou em 80% entre 2018 e 2019, e apontou uma possível atuação de pessoas de fora nestas terras.
Além disso, o pesquisador informou que há estudos que mostram que os garimpos podem ser um dos grandes causadores de endemias na Amazônia. Ele exemplificou: são cerca de 27 mil indígenas na terra povoada pelos Ianomâmis e 20 mil garimpeiros na mesma área.
“A população Ianomâmi corre o risco de ter pelo menos 40% de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Além da doença em si, a população também corre risco de passar fome, pois os indígenas em idade ativa que estão infectados não conseguem mais produzir para a aldeia”.
O coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Cláudio Almeida, trouxe ao debate uma visão geral de como o monitoramento do desmatamento da Amazônia é realizado.
“O desmatamento acontece principalmente durante a estação de seca. Todo os anos, pegamos uma nova imagem e identificamos novas áreas de desmatamento, e comparamos com o ano anterior”. Além disso, ele explicou que “depois de 2012 – ano com menor pico de desmatamento – foi iniciada uma aceleração no desmatamento da Amazônia, crescendo todos os anos”.
O coordenador do programa de monitoramento da Amazônia disse que eles também realizam o monitoramento diário, que auxilia os órgãos de fiscalização a identificarem onde está ocorrendo o desmatamento, que, por sua vez, identificam as atividades que ocorrem no local. Os dados coletados pelo Inpe em relação à Amazônia estão disponíveis no portal terrabrasilis.dpi.inpe.br – em mapa e em análise gráfica.
O professor da Universidade Federal do Pará, Harley Silva, acredita que o atual repertório urbano brasileiro não é adaptado às dinâmicas ambientais e econômicas da Amazônia, e, por isso, não existe um enriquecimento mútuo entre sociedade e natureza. Para ele, neste momento, existe a necessidade de distinguir e entender o que é a cidade, os processos de urbanização e o urbano.
“Desta forma, deixamos de acreditar que os processos de transformação social dependem de miragens como o protagonismo industrial, a conservação sem uso ou a antítese urbano-rural”, explicou o professor.
Os palestrantes convidados deste webinar foram: Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe; Harley Silva, professor na Universidade Federal do Pará; e Tiago Moreira, pesquisador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA). A mediação foi realizada por Thais Tartalha Lombardi, pesquisadora colaboradora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/Unicamp).