O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, é o convidado de 2020 para a palestra anual que celebra o Dia Internacional Nelson Mandela. O evento é organizado pela Fundação Nelson Mandela, que gerencia o legado do ex-presidente da África do Sul.
O chefe da ONU foi convidado para a 18.ª Palestra Anual Combatendo a Pandemia Desigual: Um Novo Contrato Social para uma Nova Era.
António Guterres afirmou que a desigualdade é a questão que “define o nosso tempo” e alertou que o problema pode destruir economias e sociedades.
A série de palestras da Fundação Nelson Mandela acontece no dia do aniversário de nascimento do primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul. Todos os anos, personalidades mundiais são convidadas para discutir os principais desafios internacionais.
Para Guterres, a pandemia evidenciou desigualdades crescentes e “expôs o mito de que todos estão no mesmo barco.” Segundo ele, “todos flutuam no mesmo mar, mas alguns navegam em super iates.”
O chefe da ONU afirma que esse risco global foi ignorado por décadas, mas se faz visível em sistemas de saúde, de proteção social, desigualdades estruturais e degradação ambiental.
O secretário-geral disse que 1% dos mais ricos em todo o globo detém 27% da receita global e tem tanta riqueza quanto a metade da população mais pobre do mundo.
Segundo ele, todos sofrem as consequências, através de “instabilidade econômica, corrupção, crises financeiras, aumento da criminalidade e problemas de saúde física e mental.”
Colonialismo
Guterres também falou do legado do colonialismo ao dizer que esse é um aspecto histórico da desigualdade. Para ele, o movimento antirracista de hoje é um reflexo dessa realidade.
Ele afirmou que os países do norte, especificamente os europeus, dominaram os Estados do sul “através da violência e da coerção.” Isso levou a enormes desigualdades entre países e dentro deles, incluindo o comércio transatlântico de escravos e o regime do apartheid na África do Sul.
Para ele, o patriarcado é outra desigualdade histórica com efeitos nos dias de hoje.
O secretário-geral definiu-se como “um feminista orgulhoso” e lembrou que sob sua liderança, a ONU alcançou a paridade de gênero nos cargos mais altos, pela primeira vez.
Voltando à desigualdade, ele disse que a expansão do comércio e o progresso tecnológico contribuíram para “uma mudança sem precedentes na distribuição de renda.”
Trabalhadores pouco qualificados estão sofrendo o impacto e enfrentam um “ataque” de novas tecnologias, automação e o fim das organizações trabalhistas.
Enquanto isso, benefícios fiscais, evasão de impostos e baixas taxas para as empresas indicam a existência de menos recursos para proteção social, educação e saúde, serviços que reduzem a desigualdade.
Guterres afirmou que “todos devem pagar sua parte justa” de impostos e pediu que os governos enfrentem o “ciclo vicioso” da corrupção. Para o chefe da ONU, este problema enfraquece as normas sociais e o Estado de direito.
Novo Contrato Social
Ele também abordou a desigualdade causada pela mudança climática. Embora seja um problema de todo o mundo, os efeitos são sentidos mais profundamente pelos países que menos contribuem.
Ele citou ameaças como aumento da fome, malária e outras doenças, migração forçada e eventos climáticos extremos.
Para Guterres, o único caminho para um futuro justo e sustentável é um Novo Contrato Social e um Novo Acordo Global.
O “Novo Contrato Social” deve permitir que os jovens vivam com dignidade, as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens e os vulneráveis sejam protegidos.
Já o Novo Acordo Global, precisa “garantir que poder, riqueza e oportunidades sejam compartilhados de maneira mais ampla e justa no nível internacional.”
O líder das Nações Unidas pediu novas redes de segurança social, incluindo a cobertura universal de saúde, mais investimento em serviços públicos, programas que revertam desigualdades de longa duração e políticas de combate às desigualdades de gênero, raça ou etnia.
Educação
Segundo sele, educação de qualidade para todos e um uso positivo da tecnologia digital serão cruciais para alcançar esses objetivos.
Isso significaria duplicar os gastos com educação em países de baixa e média rendas, para US$ 3 trilhões por ano, até 2030.
Também exige uma transformação na maneira como as crianças são ensinadas, com destaque para a alfabetização digital e infraestrutura.
Segundo Guterres, as Nações Unidas estão apoiando esses esforços. Ele lembrou o Roteiro para a Cooperação Digital, lançado em junho desse ano, que promove maneiras de conectar quatro bilhões de pessoas à internet até 2030 e o “Giga”, um projeto que pretende colocar todas as escolas do mundo on-line.
União
O chefe da ONU terminou reafirmando a importância da cooperação e solidariedade internacionais. Segundo ele, ou os países estão juntos, ou desmoronam.
Guterres acredita que o mundo está em um ponto de ruptura e é hora de os líderes decidirem que caminho querem seguir. Segundo ele, é preciso escolher entre “caos, divisão e desigualdade” ou corrigir os erros do passado.
Ainda durante a palestra, António Guterres anunciou que o jogador sul-africano de rugby, Siya Kolisi, será o novo embaixador da Boa Vontade para a campanha “Spotlight” para combater a violência a mulheres. A iniciativa é liderada pela agência ONU Mulheres e conta com o financiamento da União Europeia.
Para assistir à palestra (em inglês) acesse o link do canal do YouTube da ONU WebTV.
Fonte: ONU News