Durante a pandemia da Covid-19, o conflito entre seres humanos, capital e trabalho se aguçou de várias maneiras – uma delas a pressa com que as autoridades cederam às pressões para abrir o comércio de pequenas lojas ou de grandes estruturas como os shoppings.
A pandemia revelou que os capitalistas – em diversos níveis – não estão preocupados com vidas humanas, mas com ações de seres humanos que fortalecem a sociedade de consumo.
A mídia brasileira, sobretudo as emissoras de TV – tem demonstrado a correria ao consumo nas grandes cidades em desrespeito às normas sanitárias vigentes para proteção contra a Covid-19.
O cenário é de aglomeração, quebra de protocolos médicos, desrespeito à morte e, consequentemente, à vida dos profissionais e saúde. Assim, todos se apressam na ‘transcendência do instante’ para auferir o gozo provocado pelo fetiche das mercadorias.
Na maioria das grandes cidades ocidentais, o viver se tornou menos importante do que o ato de consumir. Por isso, reina o ceticismo de uma certa camada social em relação aos riscos de morte trazidos pela Como podemos pensar o labor no Brasil em plena pandemia da Covid-19?
Para Hannah Arendt, o labor é a atividade do viver, do crescer, a capacidade que cada ser humano tem de organizar e gerenciar a sua vida, quer seja no sentido biológico, quer seja no sentido sociopolítico. O labor é aquilo que mantém o ser humano vivo.
No Brasil in pandemia, a precarização da vida foi reforçada pela negligência das autoridades quanto à proteção sanitária dos mais pobres economicamente – algo que nos remete a um longo percurso de nossa história.
O labor no Brasil não é o maná da vida, porque as condições higiênicas nas quais sobrevive a maioria do nosso povo guardam semelhanças com o ‘sanitarismo’ da Idade Média.
Somos medievais no tratamento das doenças tropicais, cáries e outras endemias que assolam as populações de baixa-renda. Isto faz com que a higiene não seja motivo de autoestima para o cidadão que precisa se deslocar quilômetros e léguas em busca de um atendimento médico.
O presidente da República, Jari Messias Bolsonaro, mata o labor, não respeita as normas de controle sanitário e procura usar o povo e boa parte da classe média com sua função totalitária da linguagem de propaganda política.
Assim, nós brasileiros, morremos antes de gozarmos o significado do labor.
No tocante ao trabalho – podemos dizer que, ao contrário do labor – o trabalho não é uma atividade natural, isto ratificado nas palavras de Arendt. Mas o trabalho é uma atividade importante para que o ser humano se sinta em sociedade e posso gerar seus bens de subsistências, aprendendo através de um ofício o caráter fugaz da temporalidade social.
No Brasil da Covid-19, do governo totalitário de Bolsonaro, convivemos com a precarização do trabalho, a partir da reforma trabalhista, o que gerou inseguranças sociais e aumentou o número de desempregados.
Com um projeto neoliberal, o governo retirou a maioria das garantias do trabalhador e esvaziou a Justiça do Trabalho, o que coloca o trabalho à mercê das leis do patronato.
O trabalho intermitente, concebido com arma neoliberal no governo Bolsonaro, transforma a vida em mercadoria, porque o operário ou profissional liberal se tornou refém do tempo de produção de bens de consumo.
Poderíamos dizer que o trabalho como uma das principais atividades do ser humano foi infectado duplamente: pelo Coronavírus e pela política neoliberal de Paulo Guedes (Ministro da Economia) e Bolsonaro.
Por último, como pensar a ação social como uma das principais características da atividade humana?
No período da pandemia, as ações sociais veiculadas pela mídia foram enunciadas no plano do consumo – estratégias de abertura de novo comércios.
Pouco se pensou no Brasil da Covid-19 a ação social a partir das extensões da Educação, Artes e Ciência – está tão negada no plano de aplicação de projetos de saúde para salvar a população da pandemia.
As nossas atividades humanas foram empobrecidas neste período de pandemia da Covid-19, por razões da falta de valorização do labor, precarização do trabalho e bloqueio de importantes ações sociais.
*O autor é Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Sociologia pela Sorbonne – Paris V