Tecemos uma rede de relações com o mundo, com a natureza, e com os humanos, experienciamos a alteridade. Compreende-se que, na alteridade, o homem possui uma relação de interação e dependência com o outro. A coexistência com os outros parece ser, a princípio, um traço constitutivo do ser-no-mundo.
A partir do contexto das relações, somos convidados à reflexão do momento atual, surpreendidos com a pandemia da Covid -19, que paralisou o mundo, possibilitando emoções e sentimentos desagradáveis frente ao fenômeno. Diante disso, fomos convocados a nos reinventar, a viver o diferente.
Certamente, já enfrentamos adversidades postas pelo mundo, e a pandemia nos revirou ao avesso e nos convocou a viver o Novo Normal, que nos convida a repensarmos sobre a forma pela qual estamos nos constituindo e construindo o mundo a nossa volta, nos convoca a olhar o mundo de forma coletiva, e não mais de maneira individualista.
O novo normal espera que essa nova realidade que se coloca frente a nós, seja construída com mais responsabilidade frente ao outro (consciência coletiva) e ao mundo que nos rodeia.
Dessa forma, talvez não seja mais possível regressar aquele “normal”, que tanto aspiramos retroceder, quando nos retirássemos do isolamento de nossos lares. O novo normal oferece possibilidades de novas relações em todos os setores da vida humana: saúde, relacionamentos, economia, trabalho, tecnologias, lazer, família, amigos, sexualidade.
A criatividade coloca-se como uma forma de se reinventar frente ao novo, a perspectiva da criatividade funciona como força vital, como manifestação de uma força inerente a vida.
Dessa forma, esse novo normal nos leva a experimentar o fenômeno da criatividade em todos os aspectos que constituem a vida humana, no sentido de se recriar, e de reinventar esse novo, essa nova lógica que se coloca frente a nós, talvez como uma forma de se construir uma nova realidade, com mais humanidade, mais coletividade, com uma maior preocupação com a natureza, com as relações, com a saúde, com o trabalho, com o cotidiano de nossas vidas.
Assim, somos convocados a reflexões sobre a construção do novo normal, e de nossa co-responsabilidade sobre essa construção, pois somos parte dessa lógica. Destarte, observamos que, ao nos estabelecermos humanos, torna-se imperativo os processos de se relacionar, ser-com-os-outros, ser-no-mundo.
Somos convocados a nos reinventar, a nos recriar, a abandonar velhos hábitos, velhas formas de ser, de nos relacionar, de não mais pensar em nossas individualidades apenas, mas na coletividade.
O processo criativo pode ser uma via na construção desse mundo pensado a partir do coletivo, preocupado com os outros, com a natureza, preocupado nessa nova constituição da nossa própria humanidade. Estamos implicados nesse processo, não há como ficarmos na inércia de nossas individualidades, o novo normal necessita de homens coletivos, de humanização, de novos sentidos de ser-com-os-outros.
*A autora é psicóloga pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Psicologia Clínica. Mestre pela PUC do Rio. Docente no Centro Universitário Fametro. Voluntária na Fazenda da Esperança.