O manuscrito não publicado intitulado Romance da Minha Vida foi encontrado no acervo documental de Silvino Santos localizado no Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A descoberta foi feita pela equipe do Laboratório de Pesquisa em Arquivologia, História e Patrimônio, coordenado pelo professor Leandro Coelho de Aguiar, ligado à Faculdade de Informação e Comunicação da Ufam.
O Laboratório é o responsável pelo projeto, existente desde 2018, de diagnóstico, preservação, criação de instrumentos de pesquisa, das obras do português, radicado no Norte, realizado por meio da parceria com o Museu Amazônico.
Ao todo, são mais de 1.600 itens que retratam a vida e a obra de Silvino Santos. A coleção é formada por fotografias, negativos em vidro, filmes, equipamentos fotográficos, documentos e objetos pessoais, recortes de jornais, revistas, livros e manuscritos adquiridos pela Ufam, por meio de compra e doações.
De acordo com o professor Leandro Coelho de Aguiar, mesmo com o projeto ainda em andamento, alguns resultados se mostram relevantes, como a descoberta do manuscrito não publicado assinado pelo próprio Silvino Santos.
“Estamos na etapa de levantamento das informações do acervo para, posteriormente, produzir um catálogo que será publicado em formato físico e digital. O resultado preliminar é a descoberta do ‘Romance da Minha Vida’, ainda não publicado, que pela relevância social e histórica do próprio Silvino, representa um importante achado para sociedade. Todo mundo o conhece enquanto fotógrafo e cineasta, que representou tão bem a região Norte, mas agora estamos diante de um romance, apresentando assim uma outra vertente do Silvino”, enfatizou o professor.
O docente explicou também que o projeto tem como objetivo dar acesso e contribuir na preservação física e intelectual do patrimônio documental do Silvino Santos pertencente ao Museu Amazônico.
“O acervo do fotógrafo e cineasta tem relevância social, histórica e cultural na formação e consolidação de Estado. A ação de preservação do patrimônio documental visa criar condições para o seu acesso”, explicou.
Segundo o diretor geral do Museu Amazônico, Dysson Teles Alves, o processo de organização arquivística dos vários acervos do Museu vem sendo construído em parceria com Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
“Os alunos de Pibic tem a possibilidade de realizar pesquisas nos nossos acervos. Essa troca é interessante tanto para o aprendizado do aluno, que entra em contato direto com o acervo que deseja pesquisar como para o Museu Amazônico, que recebe essa mão de obra em processo de qualificação para organização dos seus acervos. Com a coleção do Silvino Santos aconteceu isso. O acervo já estava pré-catalogado, composto com mais de 1.600 itens, e dentre eles o projeto do Laboratório de Pesquisa em Arquivologia, História e Patrimônio encontrou o ‘Romance da Minha Vida’, que não está publicado”, explicou o diretor.
O diretor lembrou também que acervos bem catalogados e identificados facilitam o trabalho dos pesquisadores. Ao falar especificamente sobre o Romance, o responsável pelo Museu Amazônico enfatizou que ele não se resume apenas a uma autobiografia.
Trata-se de um relato histórico, desde a sua infância em uma aldeia portuguesa, passando pela adolescência e chegando até a vida adulta. Destaco que como se tratava de uma pessoa com muitas experiências, sobretudo de viagens, Silvino Santos narrou no manuscrito os aspectos políticos e econômicos dos países em que ele visitou como França, Portugal e Brasil. Há aspectos que o Romance do Silvino proporciona informações muito ricas, principalmente, históricas. Lembro que existem algumas dissertações e teses que mencionam a existência do ‘Romance da Minha Vida’, mas nenhuma analisou a fundo. O que estamos fazendo agora é a transcrição do Romance, respeitando caligrafia e a gramática da época. Os alunos de Arquivologia, coordenados pelo professor Leandro, deram continuidade ao processo de identificação e catalogação deste material. Segundo minhas pesquisas preliminares, o manuscrito não foi editado e o Museu Amazônico tem projeto para futura publicação
Dysson Teles Alves
Para a museóloga do Museu Amazônico, Lucimery Ribeiro, do ponto de vista museológico, o projeto “Diagnóstico do acervo documental histórico do Museu Amazônico”, coordenado pelo professor Leandro Aguiar, auxilia a manutenção de uma etapa importante no papel dos museus: o da preservação.
“No todo, a instituição museológica trabalha a partir da tríade: pesquisa, comunicação e preservação. As etapas de gestão de acervo são diversas e, poder contar com a atenção dedicada pelos integrantes do projeto, agiliza passos relevantes, em específico no acervo do Silvino Santos, do reconhecimento e controle do mesmo. Por meio dessas fases, outras atividades poderão ser estabelecidas no museu, como exposições, publicações, ações educativas, dentre outras. Contar com esse apoio, que considera as práticas necessárias de um museu, é muito importante e um ganho para ambos os lados”, finalizou.
Silvino Santos
Português radicado no Norte do Brasil, Silvino Santos desenvolveu seu trabalho – primeiramente com fotografia, em seguida com cinema – em Manaus (AM), onde morreu em 1970, aos 84 anos.
É do cineasta e fotógrafo alguns dos mais importantes registros visuais da Amazônia, como por exemplo, na primeira metade do século 20, o filme No Paiz das Amazonas (1921).
As obras foram bem recebidas à época de lançamento, apresentadas com bons públicos nas principais capitais brasileiras e na Europa. Trata-se de um pioneiro da fotografia e do cinema no Brasil, que legou importantes registros da vida social e cultural da Amazônia da primeira metade do século XX.
Fonte: Ascom/Ufam