Dois eventos trágicos marcaram esses últimos dias.
O primeiro foi o caso ocorrido em Kenosha, nos Estados Unidos da América, neste último domingo, com Jacob Blake, homem negro, que foi alvejado pela polícia com diversos tiros pelas costas enquanto entrava em seu carro.
O segundo caso foi o do entregador de comida, na cidade de Osasco, em São Paulo, que sofreu ofensas racistas de um morador do condomínio onde foi realizar uma entrega.
Tais eventos reabriram as discussões, fazendo com que muitos se posicionassem nas mídias sociais, e debatessem a respeito do preconceito e suas consequências.
Essas ações violentas e humilhantes exacerbam a questão do preconceito racial, de gênero e social e devem ser coibidas e punidas com todo o rigor que a Lei oferece.
A proposta deste artigo não é defender esses tipos de comportamento hediondos, mas analisar o preconceito como um fenômeno social, presente em nossa sociedade. Para isso, devemos primeiramente entender o que é o preconceito.
De acordo com o dicionário, preconceito é uma opinião ou pensamento acerca de algo ou de alguém, construída a partir de análises sem fundamento, conhecimento ou reflexão.
O que pouco se discute quanto ao preconceito é o porquê dele estar tão presente em nossa sociedade.
O primeiro ponto a ser esclarecido é o fato de que boa parte das pessoas é preconceituosa, mas simplesmente nega e não externaliza suas ideias, por uma questão de respeito ao outro e porque não seria “politicamente correto”.
Mas por que somos preconceituosos?
Quando nos posicionamos ou criticamos algo, fazemos a partir das experiências e dos ensinamentos assimilados durante nossa construção como indivíduos.
Na infância aprendemos com os grupos sociais aos quais pertencemos (inclusive a família), conceitos sobre o que é certo e o errado e o que é permitido e o que não é proibido.
Esses conceitos, sejam errôneos ou não, são absorvidos por todos nós como sendo verdadeiros, passando a fazer parte da nossa formação como sujeitos. Os preconceitos surgem desses ensinamentos, ou seja, nós os desenvolvemos como um produto das relações sociais que nos constitui como indivíduo e como ser social.
A partir dessa questão, entendo que não é possível acabar com o preconceito, mas é possível buscar uma mudança de conceitos de uma sociedade, de forma paulatina e sensibilizadora, a fim de criar um lugar de convivência fraterna e com respeito ao outro. Essa tarefa só é possível por meio da educação social.
Os lamentáveis fatos apresentados no início do artigo demonstram que algumas pessoas, além de serem preconceituosas e externalizarem isso por meio de ações e comportamentos agressivos, não respeitam o outro como indivíduo.
Apesar de se falar tanto em preconceito, acredito que o maior desafio é sensibilizar a sociedade quanto ao respeito que devemos ter com relação ao outro mesmo que não estejamos de acordo com suas ideias e escolhas.
A existência de preconceito, mas resguardado o devido respeito ao outro ofereceria um equilíbrio harmonioso nas relações humanas.
Em última análise se todos queremos ser respeitados quanto as nossas escolhas e ideias, não respeitar o outro abre um precedente para que outros não respeitem as nossas escolhas e posicionamentos. Esse é um assunto que vale a pena ser refletido por todos.
*O autor é professor do curso de Psicologia do Centro Univesitário Fametro