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Mulheres na política é o tema do livro da pesquisadora Michelle Vale

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Em seu primeiro livro, a escritora amazonense Michelle Vale assume o desafio de contar ao leitor sobre a participação feminina na política representativa do Amazonas, dando especial relevo ao protagonismo de Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil.

A obra, que tem por título Mulheres no Poder: a trajetória política de Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil, será lançada no próximo dia 12 de setembro, às 09h, na Livraria Nacional, localizada na Rua 24 de maio, nº 415, no centro de Manaus.

Mulher, evangélica, educada sob preceitos religiosos, casada com Darcy Michiles, político influente do município de Maués, Eunice Michiles que no início de seu casamento tinha um verdadeiro “pavor à política” por ser considerada prioridade na vida de seu esposo, jamais imaginaria que seria justo ela a responsável por mudar todo o percurso de sua vida, tornando-a símbolo de protagonismo da política brasileira.

Segundo a autora, a obra que tem três capítulos, também conta a história da luta feminista no Amazonas e da participação das parlamentares amazonenses Beth Azize e Sadie Hauache juntamente com Eunice Michiles na elaboração da Nova Constituição Federal.

Viagem no tempo

O segundo e terceiro capítulo do livro é uma verdadeira viagem no tempo, pois conta da chegada da jovem Eunice Michiles a Maués, suas aventuras pela floresta Amazônica, o amor pela educação infantil, a preocupação com a saúde das mulheres, o sonho pelo cargo de secretária de assistência social do município de Manaus até a sua trajetória política enquanto deputada estadual pelo Amazonas e sua chegada ao Senado brasileiro.

Luta por direitos

A autora trouxe ainda o desafio de desmistificar o discurso machista de que a política não é lugar de mulher e conclui que, Eunice Michiles foi capaz de enfrentar o preconceito e a discriminação em um espaço em que as próprias estruturas físicas do local não estavam preparadas para receber uma mulher, pois “nem banheiro feminino tinha nas dependências do Senado. Foi preciso ser construído as pressas” relatou a ex-senadora em entrevista a autora.

Eunice Michiles adentrou esse espaço de poder em desvantagem pelo fato de ser mulher, haja vista tratar-se de uma instituição eminentemente androcêntrica.

Mesmo assim, não baixou guarda e lutou pela emancipação feminina dentro do próprio parlamento quando se tornou a primeira mulher a discursar na tribuna sobre a Lei da Virgindade, direitos e reconhecimento do trabalho doméstico e planejamento familiar.

Tornou-se símbolo da história política do Amazonas e do Brasil, sua chegada ao Senado até hoje, após 40 anos, representa um exemplo de conquista feminina e um grande incentivo para a participação das mulheres na política representativa do Brasil.

Participações

A obra também contou com a participação da ex-vereadora Lúcia Antony, da ex-deputada federal Beth Azize, ex-deputada federal Conceição Sampaio e da ex-senadora Vanessa Grazziotin. Outras representantes da luta feminista no Amazonas como a Luzarina, Florismar, Flávia e a Professora da Universidade Federal do Amazonas a Dra. Selda Vale, também contribuíram com o enredo.

 


Entrevista com a autora

“Nossa sociedade ainda é machista quando falamos

de mulheres nos espaços de poder político.”

Professora, porque a senhora tomou a senadora Eunice Michiles como símbolo do protagonismo feminino na política amazonense?

Tudo ocorreu em 2012, em um Congresso da rede feminista Norte e Nordeste, na Universidade Federal de João Pessoa.

Eu estava participando de um grupo de trabalho sobre mulheres nos espaços de poder político. Fui apresentar um artigo sobre as mulheres na política amazonense.

Nesse artigo, citei alguns nomes de mulheres que passaram pela política representativa no Amazonas. Eunice Michiles, Sadie Hauache e Beth Azize. Nesse grupo de trabalho estavam presentes várias pesquisadoras feministas.

Após a apresentação, houve muitas perguntas sobre a ex-senadora foram surgindo, pois como eu estava ali apresentando trabalho e representando o Amazonas, elas queriam saber um pouco mais sobre a trajetória política dela, e então foi quando surgiu a ideia. Porque não falar, pesquisar, sobre a trajetória política de Eunice Michiles?

Eu percebi que, fora do Amazonas, as pessoas gostariam de saber sobre essa história. Foi quando passei a buscar em fontes bibliográficas, mas tudo que achava era o que eu e muitas pessoas já sabiam.

Então em 2013, quando entrei para o mestrado na Universidade Federal do Amazonas, com a proposta de pesquisa sobre a vida política de Eunice Michiles. Aí passei a ir atrás de fontes que pudessem me ajudar.

Então a pergunta principal para o desenvolver da pesquisa gerou em saber o que levou Eunice Michiles a se candidatar na chapa de João Bosco Ramos de Lima para aquelas eleições ao Senado, mesmo sabendo que não iria se eleger.

Fale-nos um pouco das dificuldades das suas escolhas e da relação dessas com a realidade, na hora de realizar a pesquisa?

Uma das maiores dificuldades que encontrei foi achar as pessoas que pudessem conceder entrevistas e falar sobre a senadora. A ideia sempre foi tanto entrevistar a própria Eunice Michiles, quanto outras mulheres também.

Porém, pelo tempo que transcorreu da chegada de dona Eunice ao Senado, quer dizer, quase 40 anos depois, achar os sujeitos certos foi muito difícil.

A pesquisa documental também foi bem difícil. Eu ia constantemente à Biblioteca Pública para pesquisar reportagens da época e checar datas de publicação. Era bem complicado.

Mas até entrevistar a dona Eunice eu precisava cair em campo e me dedicar às pesquisas bibliográficas também. Eu comprava muitos livros sobre mulheres na política e uma dessas leituras me deparei com a história de uma mulher, evangélica, esposa de político aqui do Amazonas.

Quando li o livro, não acreditei, era a história contada pela própria mulher que se candidatou ao Senado pelo partido de oposição à Arena, na época, para concorrer com dona Eunice Michiles.

Fui compreendendo coisas que a sociedade não sabia. Por exemplo, que Eunice Michiles só se candidatou ao Senado porque o partido de oposição já tinha uma mulher na chapa e naquele momento, década de 1970, a participação política das mulheres por conta dos movimentos sociais estava crescendo.

A Arena, enquanto partido de base da Ditadura Militar, já vivendo momentos de enfraquecimento político, viu em Eunice uma forte aliada a apoiar a chapa e a eleger o João Bosco. Eunice sempre arrastava muitos votos de Maués e de outros municípios. Então, essa foi a estratégia política do partido.

O que eu considero algo muito semelhante aos dias atuais. Candidaturas femininas sendo criadas para eleger homens.

Em que momento decidiu que ia publicar a sua pesquisa em livro?

O livro é resultado de minha dissertação de Mestrado. Tive aprovação da banca avaliadora com indicação para publicação.

Então meses depois eu recebi um convite para publicar pela editora Appris. Eu já estava pesquisando uma boa editora para publicar esse material e então fechei com a Appris.

Eu quis tornar acessível as pessoas a história de uma mulher que faz parte da história política do Amazonas.

Percebo que muitas pessoas desconhecem essa parte da nossa história. As pessoas conhecem o fato dela ter sido a primeira mulher a chegar ao Senado, mas desconhecem boa parte de sua trajetória.

Há outros livros em andamento?

Sim. Durante a pesquisa muitas outras informações, não somente sobre a dona Eunice Michiles foram surgindo, mas de outras mulheres que ao longo dos anos se tornaram símbolo da participação feminina na política partidária do Amazonas

Muitas informações não entraram no livro. Pretendo sim escrever sobre outras Mulheres e suas trajetórias políticas.

Qual o público almejado pela senhora?

O livro é direcionado à sociedade em geral. É direcionado à comunidade acadêmica, às mulheres que almejam compreender os desafios enfrentados por elas durante esse processo de candidaturas, eleição e atuação na política.

O livro também fala sobre a história dos movimentos feministas no Amazonas, então ele também é uma leitura importante para quem gostaria de conhecer a relação entre a pauta feminina da época com a participação feminina na Política.

Quais são os entraves que impedem as mulheres de ser mais participativas na política partidária?

A sua pergunta é bastante pertinente. Eu entrevistei parlamentares e todas afirmaram que existem dificuldades bem difíceis de enfrentar. Elas alegaram que o próprio partido não dava às mulheres a devida importância como davam aos correligionários homens.

Muitas não recebiam sequer a verba partidária, apoio para as suas campanhas. Eu ainda percebo que esse hábito ainda não mudou, isso é cultural.

Nossa sociedade ainda é machista quando falamos de mulheres nos espaços de poder político. Se somos mais da metade do eleitorado brasileiro, como se justifica estarmos tão sub-representadas na política?

Entao, penso ser cultural porque ainda ouvimos muitas mulheres afirmarem que vão votar em um amigo (homem) porque de alguma forma ele ajudou a família…

Não é que as mulheres não querem saber de política, pelo contrário, elas são seres políticos o tempo todo em suas comunidades, onde trabalham, estudam. Mas sem apoio é bem complicado tentar concorrer a uma eleição com quem gosta de poder político e financeiro.


Perfil

Michelle de Souza Vale
Assistente social, Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Especialização em Antropologia Social e Didática do Ensino Superior. Pesquisadora na área das relações de gênero. Publicou artigos em revistas especializadas sobre: mulheres e participação política, mulheres no mercado de trabalho e violência contra as mulheres. Consultora acadêmica na empresa Científica Assessoria, professora orientadora do curso de Mestrado em Educação pela Pósgrado e representante no Brasil da Universidad del Sol / Paraguai.

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