Setembro, o mês amarelo em que se trata da prevenção ao suicídio, tema ainda tão controverso e que gera sentimentos incompreensíveis e dificuldade de abordar a temática, tal como outras que também já foram tabus ao longo da história da humanidade e permearam nossa convivência com o passar dos anos.
Mas, é preciso falar, não podemos deixar de buscar fazer a compreensão de ato considerado, por uns, covardia, e por outros, coragem, haja vista que, para atentar contra a própria vida, é preciso que o indivíduo tenha uma “bravura” intensa, ou simplesmente deixar de sentir ou perceber o colorido da vida.
Setembro, que nos traz o início da primavera, mesmo que em nossa região não tenhamos a percepção tão clara das estações, é visto como o mês das cores, da profusão da alegria, dos perfumes que exalam ao desabrochar das flores.
E o que nós, seres humanos, considerados “racionais”, temos feito de forma objetiva, consistente e efetiva para buscar uma diminuição do ato, que segundo as estatísticas encerra o ciclo de uma pessoa a cada 40 segundos no mundo?
Que atenção temos lançado a este ser que, na maioria das vezes, não sinaliza claramente a necessidade de uma ajuda imediata, de um acolhimento, de um momento de encontro consigo mesmo e com aqueles que também voltam seus olhares muitas das vezes reprovação?
Quantas vezes fazemos nossos juízos, carregados de valores que são corretos para nós, porém cheios de discriminações e pontuações exageradas e moralistas, ou simplesmente dizemos que isto se trata de mimimi, ou simplesmente a falta do que fazer?.
Cuidar da dor do outro não é fácil, até pela razão de que ele não quer demonstrá-la, prefere vivê-la sozinho, e não sabemos como fazer, basta olhar introspectivamente para nós mesmos, pois quando sofremos não queremos parecer fracos, desvalidos ou simplesmente incapazes de nos cuidarmos.
Precisamos lembrar que somos benevolentes quando tratamos de nossas dificuldades e muito rígidos quando o fazemos com aquele que não conseguimos sequer mensurar sua dor, pois somente este sabe o tamanho, a intensidade e a forma como ela o vai atacando, minando as forças, tornando o mundo cinza.
Sim, já ouvi muitas pessoas declararem que veem o mundo cinza, sem cor, sem sabor para viver, sem vontade e sem perspectiva.
O que torna este mundo cinza? Muitos buscam explicar a partir de hipóteses que vão desde a predisposição genética, alterações humorais, falhas na constituição da personalidade, dificuldade em lidar com sua historicidade e uma série de outras possibilidades.
Mas não podemos tomar isso como uma generalização, pois somos singulares. Então o que fazer? Colocar-se em disponibilidade afetiva, talvez; olhar mais para o outro? Possivelmente; Cuidar do outro? Sim, mas sem esquecer de cuidar de si mesmo.
O tema é instigante, intrigante e urge diálogo, conversa aberta, sem medos, sem escoras ou amarras.
Precisamos conversar, falar, discutir, não minimizar o sofrimento do outro, lembrar que temos nossas fragilidades também e que não podemos trabalhar a partir de esquemas onde utilizemos nossa vida como ponto de referência, e sim quais as referências que estão faltando para esse ser que poderia estar colorindo sua vida, se tornando autor de sua história e não apenas o protagonista, mas tudo isso sem julgar, pois a vida é uma aquarela e devemos não só colorir a nossa, mas ajudar a tornar a vida do outro também cheia de cores.
Que setembro não seja só amarelo, mas sim multicolorido, e que não seja só em setembro, mas janeiro, fevereiro, março… E que cada um possa participar da construção desse grande quadro chamado vida, respeitando, acolhendo e cuidando do outro!
*O autor é Mestre em Psicologia, Especialista em Clíinica Social, Professor do Centro Universitário Fametro.