“Tá como pedra
Recebendo o banzeiro
Na ponta da madeira
Dando sinal de guerreiro”.
Este singelo verso, imortalizou seu autor, o pescador Lindolfo Monteverde, fundador do boi bumbá Garantido.
Lindolfo quando chegava das lonjuras das pescarias dos lagos dos Paranás do Limão, ou do Espírito Santo, à Baixa da Xanda, ao ver uma jangada de madeira, como antepara das águas, batizou-a como Ponta da Madeira e criou este verso.
A Baixa da Xanda está localizada na margem direita do rio Amazonas, na ponta leste da cidade de Parintins, e foi rebatizada como Baixa do São José, e a Ponta da Madeira era, precisamente, em frente à casa do Sr. Mário Taketomi.
Esse local foi batizado de “Ponta da Madeira”, porque naquela época a Baixa formava uma enseada e nessas paragens as águas correm no sentido de baixo para cima; no canal, elas correm no sentido de cima para baixo. Quando essas águas se encontram, formam um redemoinho e as toras das madeiras caídas das beiras dos rios, que descem ao sabor das correntezas durante as enchentes formam pequenas jangadas, pois não sobem e nem descem, ficam presas à beira dos rios.
A jangada crescia com a juntada de madeiras, porém mesmo que uma ou outra tora se desprendesse, mas o centro continuava preso à beira do rio. Mestre Lindolfo quando chegava dos lagos, já meio pau meio cacete, truviscado de pinga, trazendo peixe fresco para vender na Baixa, ao ver as águas do rio Amazonas banhando os troncos de madeiras reluzentes refletindo o sol como um espelho de águas, acredito eu que a verve poética do velho pescador abrolhava sua alma e, ainda no banco de sua canoa, brincava de “botar versos” entre eles, esse que depois virou imortal toada do boi Garantido nas ruas Parintins.

Além das poéticas das beiras dos rios, lagos, furos e paranás como fonte inspiradora; Lindolfo nutria um amor mágico, de criança, pelo seu “boizinho”, como ele gostava de se referir ao Garantido.
Essa fonte de inspiração pode ser confirmada na teimosia que moveu um menino de 11 anos de idade, de “botar o boi na rua”, posto que, naquela década de 1910, a brincadeira de boi se destinava apenas aos adultos. Também era comum acompanhar a brincadeira de bois as bebedeiras alcoólicas e agressões físicas entre os adultos.
A sociedade discriminava muito essa brincadeira atribuindo-a aos bêbados, rufiões e desocupados. Sua mãe, dona Alexandrina, ciosa de seu máter ofício, claro, não permitia que o seu menino se misturasse as turbas. E ele dizia vou botar Meu Boizinho na Rua, e ela dizia que:
– Lindolfo, tu não garante.
E ele teimosamente lhe respondia:
– Eu garanto, por isso, meu boizinho se chamará, Garantido.
Mais tarde, Lindolfo acresceu:
“Chegou o boi Garantido todo bonito
Enfeitado de lanças
A orelha dele balança
É verdade
Meu garrote é de ouro
Morena tu queres?
Te dou de presente.
Fonte: Boi Garantido de Lindolfo de Demonteverde (neto) e João Batista Monteverde (filho).
(Filho e neto de Lindolfo Monteverde).